A CRUZ DE CRISTO – Watchman Nee [ II ]

“A Vida Cristã Normal, Um apelo eloqüente de um apóstolo chinês da nossa época, que provou seu amor por Cristo suportando, por vinte anos, os sofrimentos de uma prisão comunista.”

Vimos que Romanos 1 a 8 se divide em duas seções, a primeira das quais nos mostra que o Sangue trata daquilo que fizemos, enquanto na segunda aprendemos que a Cruz trata daquilo que somos. Precisamos do Sangue para o perdão, e precisamos da Cruz para a libertação.

Já tratamos daquele, e agora consideraremos esta, depois de primeiramente levantar algumas características desta passagem que contribuem para demonstrar a diferença, em conteúdo e assunto, entre as duas metades.

Algumas distinções mais

Mencionam-se dois aspectos da ressurreição nas duas seções, nos capítulos 4 e 6. Em Romanos 4.25,
a ressurreição do Senhor Jesus Cristo é mencionada, em relação à nossa justificação: “Jesus nosso Senhor… foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação”. Trata-se aqui da nossa posição perante Deus.

Em  Romanos 6.4, no entanto, fala-se da ressurreição comunicando- nos nova vida a fim de termos um andar santo: “Para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”. Apresenta-se aqui a questão do nosso comportamento, da nossa conduta.

Semelhantemente, fala-se de paz em ambas as seções, nos capítulos 5 e 8. Romanos 5 fala da paz com Deus, que é resultado da justificação pela fé no Seu Sangue: “Justificados, pois, mediante a fé, tenhamos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (5.1). Isto significa que, agora, perdoados os meus pecados, Deus não será mais motivo de temor e perturbação para mim.

Eu, que era inimigo de Deus, fui “reconciliado com Deus mediante a morte do Seu Filho” (5.10). Logo descubro, no entanto, que sou eu quem causarei dificuldades a mim mesmo, havendo algo em meu íntimo que me perturba, levando-me a pecar. Há paz com Deus, sem, porém, haver paz comigo mesmo. Trava-se guerra civil em meu próprio coração.

Esta condição está bem descrita em Romanos 7, onde vemos a carne e o espírito em conflito mortal dentro do homem. Em seguida, o argumento conduz ao capítulo 8, à paz interior do andar no Espírito. “Porque o pendor da carne dá para a morte”, por ser “inimizade contra Deus”; o pendor do Espírito, porém, dá  “para a vida e paz” (Romanos 8.6-7).

Percebemos, ao prestar mais atenção, que a primeira seção trata de modo geral da questão da justificação (ver por exemplo, Romanos 3.24-26; 4.5,25), enquanto a segunda tem, como expoente principal, a questão da santificação (ver Romanos 6.19- 22).

Conhecendo a preciosa verdade da justificação pela fé, ainda é só metade da história que conhecemos. Foi solucionado o problema da nossa posição diante de Deus. À medida que prosseguimos, Deus tem algo mais para nos oferecer: a solução do problema da nossa conduta, tema que o desenrolar do pensamento destes capítulos se propõe a salientar.

Em cada caso, p segundo passo deriva do primeiro, e se conhecemos apenas o primeiro, então ainda seguimos uma vida cristã subnormal. Como podemos então viver uma vida cristã normal? Como entramos nela? Bem, como é evidente, em primeiro lugar devemos receber o perdão dos pecados, devemos ser justificados, devemos ter paz com Deus. Estes são os fundamentos verdadeiramente estabelecidos mediante nosso primeiro ato de fé em Cristo, sendo portanto evidente que devemos WatchmanNee01_300x400avançar para algo mais.

Veremos, pois, que o Sangue trata objetivamente com os nossos pecados. O Senhor Jesus levou-os, por nós, como nosso Substituto, sobre a Cruz, e obteve, para nós, desse modo, o perdão, a justificação e a reconciliação.

Devemos, porém, dar agora um passo a mais no plano de Deus para compreender como Ele trata com o princípio do pecado em nós. O Sangue pode lavar e tirar os meus pecados, mas não pode remover o meu “velho- homem”.

É necessária a Cruz para me crucificar. O Sangue trata dos pecados, mas a Cruz trata do pecador? Dificilmente se encontra a palavra “pecador” nos primeiros quatro capítulos de Romanos.

E isto porque ali não se salienta necessariamente o próprio pecador, falando-se mais dos pecados que ele comete. A palavra “pecador” aparece com destaque só no capítulo 5, e é importante notar-se como é que o pecador é apresentado neste trecho. É considerado pecador porque nasceu pecador, e não por ter cometido pecados. Esta distinção é importante.

É verdade que muitos obreiros do Evangelho, procurando demonstrar a alguém que é pecador, emprega o versículo Rm 3.23, onde se afirma que “todos pecaram”, emprego este que não é rigorosamente justificado pelas Escrituras.

Corre-se o perigo de cair em contradição, porque Romanos não ensina que somos pecadores por cometermos pecados, e sim, pecamos por sermos pecadores. É mais por constituição do que por ação que somos pecadores. Como Rm 5.19 o expressa: “Pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores”. Como é que nos tornamos pecadores? Pela desobediência de Adão. Não nos tornamos pecadores por aquilo que fizemos, e sim, devido aquilo que fez Adão. O capítulo 3 chama nossa atenção aquilo que fizemos  “todos pecaram” não é, porém, por isso que viemos a ser pecadores.

Perguntei, certa vez, a uma classe de crianças: “O que é um pecador? ” e a sua resposta foi imediata: “Um que peca”. Sim, aquele que peca é pecador, mas seu ato apenas comprova que já é pecador. Mesmo aquele que não comete pecados, se pertence à raça de Adão, também é pecador e necessita, igualmente, da redenção. Há pecadores maus e pecadores bons, pecadores morais e pecadores corruptos, mas todos são igualmente pecadores.

Pensamos, às vezes, que tudo nos iria bem se não fizéssemos determinadas coisas; o problema, no entanto, é muito mais profundo do que aquilo que fazemos: está naquilo que somos. O que se conta é o nascimento: sou pecador porque nasci de Adão. Não é questão do meu comportamento ou da minha conduta, e, sim, da minha hereditariedade, do meu parentesco. Não sou pecador porque peco, mas peco porque descendo de linhagem má. Peco por ser pecador.

Tendemos a pensar que o que fizemos pode ser muito mau, e que nós mesmos não somos tão maus assim. O que Deus deseja realmente nos mostrar é que nós é que somos fundamentalmente errados. A raiz do problema é o pecador: é com ele que se deve tratar. Os nossos pecados são solucionados pelo Sangue, mas nós próprios somos tratados pela Cruz. O Sangue nos perdoa pelo que fizemos; a Cruz nos liberta daquilo que somos.

A condição do homem por natureza

Chegamos pois a Romanos 5.12-21. Nesta grande passagem, a graça se contrasta com o pecado, e a obediência de Cristo com a desobediência de Adão. A passagem inicia a segunda seção de Romanos (5.12 a 8.39), com que nos ocuparemos agora de maneira especial, tirando dela a conclusão que se acha no versículo 19, já citado: “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos”. O Espírito de Deus procura aqui nos mostrar, em primeiro lugar, o que somos, e depois como chegamos a ser o que somos.

No começo da nossa vida cristã, ficamos preocupados com o que fazemos, e não com o que somos; 516phpgX1TL._UY250_sentimo-nos mais tristes pelo que temos feito, do que pelo que somos. Pensamos que, se pudéssemos retificar certas coisas, seríamos bons cristãos, e então, procuramos modificar as nossas ações. Os resultados, porém, não são o que esperávamos. Descobrimos, com grande espanto, que se trata de algo mais do que apenas certas dificuldades externas — que realmente há no íntimo um problema mais sério.

Procuramos agradar ao Senhor, descobrimos, porém, que há algo dentro de nós que não deseja agradar-Lhe. Procuramos ser humildes, mas há algo em nosso próprio-eu que se recusa a ser humilde. Procuramos demonstrar afeto, mas não sentimos ternura no íntimo. Sorrimos e procuramos parecer muito amáveis, mas no íntimo sentimos absoluta falta de amabilidade. Quanto mais procuramos corrigir as coisas na parte exterior, tanto melhor entendemos quão profundamente se arraigou o problema na parte interior. Então, chegamo-nos ao Senhor, dizendo: “Senhor, agora compreendo! Não é só o que tenho feito que está errado! Eu estou errado”.

A conclusão de Romanos 5.19 começa a se tornar clara para nós. Somos pecadores. Somos membros de uma raça que é, constitucionalmente, diferente do que Deus intencionou que fosse. Por causa da queda, houve fundamental transformação no caráter de Adão, em virtude do que se tornou pecador, constitucionalmente incapaz de agradar a Deus e a semelhança familiar que todos nós temos com ele não é meramente superficial — expressa-se também no nosso caráter interior. Como aconteceu isto? “Pela desobediência de um”, diz Paulo.

A nossa vida vem de Adão. Onde estaria você agora, se o seu bisavós tivesse morrido com três anos de idade? Teria morrido nele! A sua experiência está unida à dele. A experiência de cada um de nós está unida à de Adão da mesmíssima forma. Potencialmente, todos nós estávamos no Éden quando Adão se rendeu às palavras da serpente. Todos estamos envolvidos no pecado de Adão e, sendo nascidos “em Adão”, recebemos dele tudo aquilo em que ele se tornou, como resultado do seu pecado — quer dizer, a natureza de Adão, que é a natureza do pecador. Derivamos dele a nossa existência, e, porque sua vida se tornou pecaminosa, e pecaminosa a sua natureza, a natureza que dele derivamos também é pecaminosa. De modo que o problema está na nossa hereditariedade e não no nosso procedimento. A menos que possamos modificar o nosso parentesco, não há livramento para nós.

Mas é precisamente neste ponto que encontraremos a solução do nosso problema, porque foi exatamente assim que Deus encarou a situação.

Como em Adão, assim em Cristo

Em Romanos 5.12-21, não somente se nos diz algo a respeito de Adão, mas também em relação ao Senhor Jesus. “Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornaram justos” (19). Em Adão recebemos tudo o que é de Adão; em Cristo recebemos tudo o que é de Cristo.

livro-a-vida-crist-normal-watchman-nee-415901-MLB20422116655_092015-FAs expressões “em Adão” e “em Cristo” são muito pouco compreendidas pelos cristãos, e desejo salientar, por meio de uma ilustração que se acha na Epístola aos Hebreus, o significado racial e hereditário da expressão “em Cristo”. Na primeira parte da carta, o escritor procura demonstrar ser Melquisedeque maior do que Levi. A finalidade desta demonstração é provar que o sacerdócio de Cristo é maior do que o de Arão, que era da tribo de Levi. Já que o sacrifício de Cristo é “segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 7.14-17) e o de Arão, segundo a ordem de Levi, o argumento gira em tomo de provar que Melquisedeque é maior do que Levi.

Hebreus 7 diz que Abraão, voltando da batalha dos reis (Gênesis 14), ofereceu a Melquisedeque o dízimo dos despojos e recebeu da parte dele uma bênção, revelando ser ele de menor categoria do que Melquisedeque, porque é o menor que oferece ao maior (Hb 7.7). Outrossim, o fato de Abraão ter oferecido o dízimo a Melquisedeque implica que Isaque, “em Abraão”, também o ofereceu, e o mesmo se aplica a Jacó, e também a Levi. De modo que Levi é de menor categoria do que Melquisedeque, e o sacerdócio dele inferior ao do Senhor Jesus. Nem sequer se pensava em Levi na época da batalha dos reis. Contudo, fez sua oferta na pessoa do seu pai, antes de ter sido gerado por ele (Hb 7.9,10).

Ora, é justamente isto que significa a expressão “em Cristo”. Abraão, como a cabeça da família da fé, incluiu, em si mesmo, toda a família. Quando ele fez a SUE oferta a Melquisedeque, toda a sua família participou daquele ato. Não fizeram ofertas separadamente, como indivíduos, mas estavam nele, porque toda a sua semente estava incluída nele.

Apresenta-se-nos assim uma nova possibilidade. Em Adão, tudo se perdeu. Pela desobediência de um homem, fomos todos constituídos pecadores. O pecado entrou por ele, e, pelo pecado, entrou a morte, e desde aquele dia o pecado impera em toda a raça, produzindo a morte. Agora, porém, um raio de luz incide sobre a cena. Pela obediência de Outro, podemos ser constituídos justos. Onde o pecado abundou, superabundou a graça, e, como o pecado reinou na morte, do mesmo modo a graça pode reinar por meio da justiça para a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor (Romanos 5.19-21). O nosso desespero está em Adão; a nossa esperança está em Cristo.

O processo divino da libertação

Deus certamente deseja que estas considerações nos levem à libertação prática do pecado. Paulo deixa isto bem claro ao iniciar o capítulo 6 desta carta com a pergunta: “Permaneceremos no pecado? ” Todo o seu ser se revolta perante a simples sugestão. “De modo nenhum”, exclama. Como podia um Deus santo ter satisfação em possuir filhos não santos, presos com os grilhões do pecado? E, por isso, “como viveremos ainda no pecado? ” (Rm 6.1,2). Deus ofereceu, portanto, provisão certa e adequada para que fossemos libertados do domínio do pecado.

Mas aqui está o nosso problema. Nascemos pecadores; como podemos extirpar a nossa hereditariedade pecaminosa? Desde que nascemos em Adão, como podemos sair dele, livrando-nos dele?

Quero afirmar de imediato que o Sangue não nos pode tirar para fora de Adão. Há somente um caminho. Desde que entramos nele pelo nascimento, devemos sair dele pela morte. Para nos despojarmos da nossa pecaminosidade, temos que nos despojar da nossa vida. A escravidão ao pecado veio pelo nascimento; a libertação do pecado vem pela morte – e foi exatamente este o caminho de escape que Deus ofereceu. A morte é o segredo da emancipação. Estamos mortos para o pecado (Rm 6.2).

Como, afinal, podemos nós morrer? Alguns de nós procuramos, mediante grandes esforços, libertar-nos desta vida pecaminosa, mas a achamos muito tenaz. O caminho de saída não é nos matarmos, e sim, reconhecer que Deus em Cristo cuidou da nossa situação. É esta a idéia contida na seguinte declaração do apóstolo: “todos os que fomos batizados em Cristo a-vida-crista-normal-2-edicao-com-guia-de-estudosJesus, fomos batizados na sua morte” (Rm 6.3).

Se, porém, Deus solucionou nosso caso “em Cristo Jesus”, logo temos que estar nEle, para que isto se torne realidade eficaz, e assim surge problema igualmente grande. Como podemos “entrar” em Cristo? É neste sentido que Deus vem de novo em nosso auxílio. Não temos mesmo meio algum de entrar nEle, mas o que importa é que não precisamos tentar entrar, porque já estamos nEle. Deus fez por nós o que não poderíamos fazer por nós mesmos. Ele nos colocou em Cristo. Quero recordar I Co 1.30: “Vós sois dele (isto é, de Deus), em Cristo Jesus”. Graças a Deus! Não nos incumbe sequer de divisar um caminho de acesso ou elaborar um plano. Deus fez os planos necessários. Não só planejou como também executou o plano. “Vós sois dele, em Cristo Jesus”. Estamos nEle; portanto, não precisamos procurar entrar. É um ato divino, e está consumado.

Se isto é verdade, seguem-se certos resultados. Na ilustração do capítulo 7 de Hebreus vimos que “em Abraão” todo Israel — e, portanto, Levi, que ainda não nascera — ofereceu o dízimo a Melquisedeque. Não fizeram esta oferta separada e individualmente, mas estavam em Abraão quando este fez a oferta, e, ao fazê-la, incluiu, nesse ato, toda a sua semente. Isto é, pois, uma verdadeira figura de nós próprios “em Cristo”. Quando o Senhor Jesus estava na Cruz, todos nós morremos — não individualmente, porque ainda nem tínhamos nascido — mas, estando nEle, morremos nEle. “Um morreu por todos, logo todos morreram” (II Co 5.14). Quando Ele foi crucificado, todos nós fomos

crucificados.

“Vós sois dele, em Cristo Jesus”. O próprio Deus nos colocou em Cristo e, tratando com Cristo, Deus tratou com toda a raça. O nosso destino está ligado ao Seu. Pelas experiências por que Ele passou, nós igualmente passamos, porque estar “em Cristo” significa ter sido identificado com Ele, tanto na Sua morte como na Sua ressurreição. Ele foi crucificado; o que, então, sucedeu conosco? Devemos pedir a Deus que nos crucifique? Nunca! Quando Cristo foi crucificado, nós fomos crucificados; sendo a Sua crucificação passada, a nossa não pode situar-se no futuro. Desafio qualquer pessoa a encontrar um texto no Novo Testamento que nos diga ser futura a nossa crucificação. Todas as referências a ela se encontram no tempo aoristo do Grego, tempo que significa “feito de uma vez para sempre”, “eternamente passado” (ver Rm 6.6, Gl 2.20; 5.24). E como um homem não poderia se suicidar nunca pela crucificação, por ser fisicamente impossível, assim também, em termos espirituais, Deus não requer que nos crucifiquemos a nós próprios. Fomos crucificados quando Ele foi crucificado, pois Deus nos incluiu nEle na Cruz. A nossa morte, em Cristo, não é meramente uma posição de doutrina, é um fato eterno.

A Morte e a Ressurreição dEle são representativas e inclusivas

Quando o Senhor Jesus morreu na Cruz, derramou o Seu Sangue, dando assim a Sua vida, isenta de pecado, para expiar os nossos pecados e assim satisfez a justiça e a santidade de Deus. Tal ato constitui prerrogativa exclusiva do Filho de Deus. Nenhum homem poderia participar dele. A Escritura nunca diz que nós derramamos o nosso sangue juntamente com 51PSiIuyKYL._AC_UL320_SR210,320_Cristo. Na Sua obra expiatória, perante Deus, Ele agiu sozinho. Ninguém poderia participar dele com Ele. O Senhor, no entanto, não morreu apenas para derramar o Seu sangue: morreu para que nós pudéssemos morrer. Morreu como nosso Representante. Na Sua morte Ele incluiu a você e a mim.

Freqüentemente usamos os termos “substituição” e “identificação” para descrever estes dois aspectos da morte de Cristo. A palavra “identificação” muitas vezes é boa; pode, porém, sugerir que a experiência começa do nosso lado: que sou eu que procuro identificar-me com o Senhor. Concordo que a palavra é verdadeira, mas deve ser empregada mais tarde. É melhor começar com a verdade de que o Senhor me incluiu na Sua morte. É a morte “inclusiva” do Senhor que me habilita a me identificar com Ele,ao invés de ser eu quem me identifico com Ele a fim de ser incluído. E aquilo que Deus fez, incluindo-me em Cristo, que importa. É por isso que as duas palavras “em Cristo” me são sempre tão queridas ao coração.

A morte do Senhor Jesus é inclusiva, e Sua ressurreição igualmente. Examinando o primeiro capítulo de I Coríntios, estabelecemos que estamos “em Cristo”, e agora, mais pelo fim da Carta, veremos algo mais sobre o significado disto. Em I Co 15.45- 47, atribuem-se ao Senhor Jesus dois títulos notáveis. É chamado “o último Adão” e, igualmente, “o segundo Homem”. A Escritura não se Lhe refere como o segundo Adão e sim, como o “último Adão”, nem se Lhe refere como o último Homem, e sim, como “o segundo Homem”. Note-se esta diferença, que encerra uma verdade de grande valor.

Como o último Adão, Cristo é a soma total da humanidade; como o segundo Homem, Ele é a Cabeça de uma nova raça. De modo que temos aqui duas uniões, referindo-se uma à Sua morte e outra à Sua ressurreição. Em primeiro lugar, a Sua união com a raça, como “o último Adão”, começou, historicamente, em Belém, e terminou na Cruz e no sepulcro. E ali reuniu em Si mesmo tudo o que era de Adão, levando-o ao julgamento e à morte. Em segundo lugar, a nossa união com Ele, como “o segundo Homem”, começa com a ressurreição e termina na eternidade, ou seja, nunca, pois, tendo acabado por meio da Sua morte com o primeiro homem em quem se frustrara o propósito de Deus, ressuscitou como o Cabeça de uma nova raça de homens, em que será plenamente realizado aquele propósito.

Quando, portanto, o Senhor Jesus foi crucificado, foi no Seu caráter de último Adão, reunindo em Si e anulando tudo o que era do primeiro Adão. Como o último Adão, pôs termo à velha raça – como o segundo Homem, inicia a nova raça. É na ressurreição que Se apresenta como o segundo Homem, e nesta posição nós também estamos incluídos. “Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.5). Morremos nEle, como o último Adão; vivemos nEle, como o segundo Homem. A Cruz é, pois, o poder de Deus que nos transfere de Adão para Cristo.

Watchman Nee

Watchman Nee (倪柝聲 pinyin: Ní Tuòshēng, 4 de novembro de 1903 – 1 de junho de 1972) foi um iWatchmanNee01_300x400nfluente líder cristão chinês no período anterior ao regime comunista, morrendo na prisão vinte anos depois, em 1972. Nee To-sheng ou Watchman Nee, o grande líder cristão chinês, nasceu numa província do Sul da China. Em sua juventude, provou ser um indivíduo dotado de grande inteligência e um futuro promissor. Ele foi consistentemente o melhor aluno da Faculdade Trinity, adquirindo excelente histórico acadêmico. Nee, naturalmente, tinha grandes sonhos e planos para uma carreira cheia de realizações.

A CRUZ DE CRISTO – Watchman Nee [ II ]

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