A SENDA DO PROGRESSO: Oferecendo-nos a Deus  – Watchman Nee [ VI ]

O nosso estudo trouxe-nos a uma posição em que podemos considerar a verdadeira natureza da consagração.

Temos agora perante nós a segunda metade de Romanos 6, desde o versículo 12 até ao fim. Em Rm 6.12,13 lemos: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça”. A palavra que aqui exprime ação é “oferecer-se”, que ocorre cinco vezes nos vv. 13,16e 19.A palavra implica em consagração, mas não no sentido em que tantas vezes a entendemos. Não se trata da consagração do nosso “velho homem” com os seus instintos e recursos — a nossa sabedoria, força e outros dons naturais — ao Senhor para Ele usar.
 
Isto fica claro a partir do v. 13. Nota-se, naquele versículo, que a condição é “como ressurretos dentre os mortos”. Isto define o “ponto em que começa a consagração. Paulo diz: “Oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos”. O que aqui se refere não é a consagração de qualquer coisa pertencente à velha criação, mas somente daquilo que passou através da morte para a ressurreição. A atitude de “oferecer”, de que se fala aqui, é o resultado de eu saber que o meu velho homem foi crucificado. Saber, considerar-se, oferecer-se a Deus: esta é a ordem divina.

Quando eu realmente sei que fui crucificado com Ele, então espontaneamente considero-me morto (vv.
6 e 11) e quando sei que ressuscitei com Ele de entre os mortos, então, considero-me “vivo para Deus em Cristo Jesus” (vv. 9 e 11), pois tanto o aspecto da Cruz denominado “morte”, como o denominado “ressurreição” têm que ser aceitos pela fé. Quando chego a este ponto, segue-se que me dou a Ele. Na ressurreição, Ele é a fonte da minha vida — realmente Ele é a minha vida; de modo que não posso deixar de oferecer tudo a Ele, pois tudo é dEle e não meu. Mas, sem passar pela morte, nada tenho para consagrar, nada há de aceitável a Deus, pois “, pois já condenou, na Cruz, tudo quanto é da velha criação.A morte acabou com tudo o que não pode ser consagrado a Ele, e somente a ressurreição torna possível qualquer consagração.

Apresentar-me a Deus significa que, agora e daqui em diante, considero a minha vida como pertencente ao Senhor.

O terceiro passo: “Oferecei-vos…”

Observemos que este “apresentar-se” se refere aos membros do meu corpo — aquele corpo que, comoWatchman_Nee_2 já vimos, está agora desempregado em relação ao pecado. “Oferecei-vos… e os vossos membros” (Rm 6.13,19). Deus quer que eu considere agora todos os meus membros, todas as minhas faculdades, como pertencendo-Lhe inteiramente.

É uma coisa grandiosa quando descubro que não me pertenço mais, mas que sou dEle. Se os dez cruzeiros no meu bolso me pertencem, tenho plena autoridade sobre eles. Mas se eles pertencem a outra pessoa, que os confiou a mim, não posso comprar com eles o que quiser, nem ouso perdê-los. A vida cristã real começa com o conhecimento desta verdade. Quantos de nós sabemos que, porque Cristo ressuscitou, estamos “vivos para Deus” e não para nós próprios? Quantos não se atrevem a usar o seu tempo, ou dinheiro ou talento livro-a-vida-crist-normal-watchman-nee-415901-MLB20422116655_092015-Fsegundo sua própria vontade, porque compreendem que eles são do Senhor e não de si mesmos?”

Quantos de nós temos um sentimento tão forte de que pertencemos a outro, que não ousamos desperdiçar um só cruzeiro do nosso dinheiro ou uma hora do nosso tempo, ou qualquer dos nossos poderes mentais ou físicos?
Certa ocasião, um irmão chinês viajava de trem, havendo no vagão onde se encontrava três pessoas não crentes que queriam jogar baralho para passar o tempo. Faltando um quarto parceiro para completar o jogo, convidaram este irmão a fazer parte da partida. “Lamento decepcioná-los”, disse ele, “mas não posso participar do jogo, porque não trouxe comigo as minhas mãos.
 
Atônitos, olharam para ele e disseram: “Que é que você quer dizer?”. “Este par de mãos não me pertence” — disse ele, passando então a explicar a transferência de propriedade que tivera lugar na sua vida. Aquele irmão considerava os membros do seu corpo como pertencentes inteiramente ao Senhor. A verdadeira santidade é esta. Paulo diz: “Oferecei agora os vossos membros para servirem à justiça para a santificação” (Rm 6.19). Façamos disto um ato definido. “Oferecei-vos a Deus”.”

“Separados para o Senhor

O que é a santidade? Muitas pessoas pensam que nos tornamos santos pela extirpação de alguma coisa má dentro de nós. Não, tornamo-nos santos desde que sejamos separados para Deus. Nos tempos do Antigo Testamento o homem escolhido para ser inteiramente de Deus era publicamente ungido com azeite, e dizia-se então estar “santificado”. Daí em diante era considerado como posto à parte para Deus. De igual modo, os animais e até as coisas – um cordeiro ou o ouro do templo — podiam ser santificados, não pela extirpação de alguma coisa má neles, mas sendo assim reservado exclusivamente para o Senhor. “A santidade”, no sentido hebraico, significava, pois, “posto à parte”, e toda verdadeira santidade é santidade ao Senhor (Êx 28.36). Dou-me inteiramente a Cristo: isto é santidade.”

Oferecer-me a Deus implica o reconhecimento de que sou inteiramente dEle. Este ato de me dar ao Senhor é uma coisa definida, tão definida como o reconhecimento. Deve haver um dia, na minha vida, em que passo das minhas próprias mãos para as dEle, e desse dia em diante pertenço-Lhe e não mais a mim mesmo. Isso não significa que eu me consagro para ser pregador ou missionário. Infelizmente, muitos são missionários, não porque, no sentido que estamos considerando, verdadeiramente se tenham consagrado a Deus, mas porque não se consagraram a “Ele.

“Consagraram”, como diriam, algo inteiramente diferente: as suas faculdades naturais, não crucificadas, para realizar o Seu trabalho; esta, porém, não é a verdadeira consagração. Então a que devemos nós ser consagrados? Não ao trabalho cristão, e, sim, à vontade de Deus para ser e fazer o que Ele desejar.

Davi tinha muitos homens poderosos. Alguns eram generais e outros, porteiros, conforme o Rei lhes designava as suas tarefas.

Devemos estar prontos a ser quer generais, quer porteiros, designados às nossas responsabilidades exatamente como Deus quer e não como nós escolhemos. Se você é crente, então Deus já tem um caminho preparado para você — uma “carreira” como disse Paulo em II Tm 4.7. Não só a vereda de Paulo como também a carreira de todo crente foi claramente traçada por Deus, e é da máxima importância que cada um conheça e ande no caminho designado por Deus. “Senhor, dou-me a Ti com este desejo somente, conhecer e andar no caminho que Tu me ordenaste”.

Essa é a verdadeira entrega. Se no fim da vida pudermos dizer como Paulo: “Acabei a carreira”, então seremos verdadeiramente abençoados. Não há nada mais trágico do que chegar ao fim da vida e “sabermos que a passamos andando pelo caminho errado.

Temos apenas uma vida para viver aqui e somos livres para fazer “com ela o que nos agradar, mas, se buscarmos o nosso próprio prazer na vida, nunca glorificaremos a Deus. Ouvi certa vez um crente devoto dizer: “Nada quero para mim; quero tudo para Deus”.

Você deseja alguma coisa separadamente de Deus, ou todo o seu desejo se centraliza na vontade dEle? Pode verdadeiramente dizer que a vontade de Deus é “boa e agradável e perfeita” para você? (Rm 12.2).

São as nossas vontades que estão em causa aqui. Aquela minha forte e dogmática vontade própria tem que ir à Cruz, e eu devo me dar inteiramente ao Senhor. Não podemos esperar que um alfaiate nos faça um terno se não lhe dermos o tecido, nem que um construtor edifique uma casa quando não pusermos ao seu dispor o material necessário; e, da mesma forma, não podemos esperar que o Senhor viva a Sua vida em nós, se não Lhe dermos as nossas vidas para que Ele manifeste nelas a Sua vida. Sem reservas, sem controvérsia, devemos dar-nos a Ele, para fazer conosco o que Lhe agradar. “Oferecei-vos a Deus” (Rm6.13).

Servo ou escravo?

Se nos dermos a Deus, sem reservas, muitos ajustamentos talvez sejam necessários: na família, nos negócios, na vida da Igreja, ou “em nossas opiniões pessoais. Deus não deixará sobrar nada de nós mesmos. O Seu dedo tocará, uma por uma, todas as coisas que não são dEle, e Ele dirá: “Isto tem que desaparecer”.

Você está pronto? É loucura resistir a Deus, e é sempre prudente e sábio submeter-nos a Ele. Admitamos que muitos de nós ainda temos controvérsia com o Senhor. Ele deseja uma coisa da nossa parte, enquanto nós desejamos outra. Não ousamos considerar muitas coisas, nem orar a respeito delas, nem mesmo pensar nelas, por medo de perdermos a nossa paz. Podemos fugir assim do problema, mas isso nos colocaria fora da vontade de Deus. É sempre fácil nos afastarmos da Sua vontade, mas é uma bênção nos entregarmos a Ele e deixá-Lo realizar em nós o Seu propósito.

Como é bom ter a consciência de que pertencemos ao Senhor e de que não somos de nós mesmos! Não há coisa alguma mais preciosa no mundo. É isso que traz a consciência da Sua presença contínua, e a razão é óbvia.

Eu devo ter o sentimento de que Deus me possui antes de poder ter o sentimento da Sua presença em mim. Desde que a Sua soberania seja estabelecida, então não ouso fazer coisa alguma no meu próprio interesse, pois sou Sua propriedade exclusiva. “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência sois servos? ” (Rm 6.16). A palavra aqui traduzida por “servo”, significa realmente escravo. Esta palavra é usada várias vezes na segunda metade de Romanos 6. Qual é a diferença entre um servo e um escravo? Um servo pode servir o outra pessoa mas não se torna propriedade sua. Se gostar do seu senhor, pode servi-lo, mas se não gostar dele, pode notificá-lo que quer deixar o serviço, e buscar outro senhor. O mesmo não acontece com o escravo. Ele não é apenas empregado de outra pessoa, mas também sua possessão. Como me tornei eu escravo do Senhor?

Ele, por Seu lado, comprou-me, e eu, por meu lado, ofereci-me a Ele. Por direito de redenção, sou propriedade de Deus. Mas, para que eu seja Seu escravo devo voluntariamente me dar a Ele, pois Ele nunca me obrigará a fazê-lo. O problema de muitos cristãos hoje é que têm idéia insuficiente quanto ao que Deus pede deles.

Quão facilmente dizem: “Senhor, estou pronto para tudo”. Você sabe o que Deus pede da sua vida? Há idéias acalentadas, vontades fortes, relações preciosas, trabalhos prediletos, que têm que desaparecer da nossa vida; de modo que não devemos nos oferecer a Deus antes de estarmos prontos a isto. Deus nos levará a sério.

Quando o rapaz galileu trouxe o pão ao Senhor, o que fez Ele?

Quebrou o pão. Deus sempre quebra aquilo que Lhe é oferecido, mas após quebrá-lo, abençoa-o e usa-o para suprir as necessidade dos outros. Após nos darmos ao Senhor, Ele começa a quebrar o que Lhe foi oferecido. Tudo parece ir mal conosco, e começamos a protestar e a nos queixar dos caminhos de Deus. Mas parar neste ponto equivale a ser um vaso quebrado — sem préstimo para o mundo, porque fomos demasiado longe para que tenhamos utilidade para o mundo, e sem préstimo para Deus, porque não fomos suficientemente longe para que Ele pudesse usar-nos.

Ficamos desengrenados com o mundo e temos uma controvérsia com Deus. Esta é a tragédia de muitos cristãos.

A minha entrega ao Senhor deve ser um ato inicial e fundamental. Depois, dia a dia, devo prosseguir, dando-me a Ele, sem me queixar do uso que Ele faz de mim, mas aceitando, com grato louvor, mesmo aquilo contra o qual a carne se revolta.

Sou do Senhor e agora não mais me considero propriedade minha, mas reconheço em tudo a Sua soberania e autoridade. Esta é a atitude que Deus requer, e mantê-la é verdadeira consagração.

Não me consagro para ser missionário ou pregador; consagro-me a Deus para fazer a Sua vontade, onde estiver, quer seja na escola, no escritório, na oficina ou na cozinha, considerando que tudo o que Ele ordena é o melhor para mim, pois somente o que é bom pode advir para aqueles que são inteiramente Seus. Permita Deus que estejamos sempre possuídos da consciência de que não somos de nós mesmos!

Watchman Nee
 
Trecho de: Watchman Nee. “A vida cristã normal.”

Watchman Nee (倪柝聲 pinyin: Ní Tuòshēng, 4 de novembro de 1903 – 1 de junho de 1972) foi um WatchmanNee01_300x400influente líder cristão chinês no período anterior ao regime comunista, morrendo na prisão vinte anos depois, em 1972. Nee To-sheng ou Watchman Nee, o grande líder cristão chinês, nasceu numa província do Sul da China. Em sua juventude, provou ser um indivíduo dotado de grande inteligência e um futuro promissor. Ele foi consistentemente o melhor aluno da Faculdade Trinity, adquirindo excelente histórico acadêmico. Nee, naturalmente, tinha grandes sonhos e planos para uma carreira cheia de realizações.

 

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