AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS: Porta do Livramento – Richard J. Foster

“Passo pela vida como um transeunte a caminho da eternidade, feito à imagem de Deus mas com essa imagem aviltada, necessitando de que se lhe ensine a meditar, adorar, pensar.” – Donald Coggan, Arcebispo de Cantuária

A superficialidade é maldição de nosso tempo. A doutrina da satisfação instantânea é, antes de tudo, um problema espiritual. A necessidade urgente hoje não é de um maior número de pessoas inteligentes, ou dotadas, mas de pessoas profundas.

53b15e38a2afd_richard_j_fosterAs Disciplinas clássicas da vida espiritual convidam-nos a passar no viver na superfície para o viver nas profundezas. Elas nos chamam para explorar os recônditos interiores do reino espiritual. Instam conosco a que sejamos a resposta a um mundo vazio. John Woolman aconselhou: “É bom que vos aprofundeis, para que possais sentir e entender os sentimentos das pessoas.”

Não devemos ser levados a crer que as Disciplinas são para os gigantes espirituais e, por isso, estejam além de nosso alcance; ou para os contemplativos que devotam todo o tempo à oração e à meditação. Longe disso.

Na intenção de Deus, as Disciplinas da vida espiritual são para seres humanos comuns: pessoas que têm empregos, que cuidam dos filhos, que lavam pratos e cortam grama. Na realidade, as Disciplinas são mais bem exercidas no meio de nossas atividades normais diárias. Se elas devem ter qualquer efeito transformador, o efeito deve encontrar-se nas conjunturas comuns da vida humana: em nossos relacionamentos com o marido ou com a esposa, com nossos irmãos e irmãs, ou com nossos amigos e vizinhos.

Nem deveríamos pensar nas Disciplinas Espirituais como uma tarefa ingrata e monótona que visa a exterminar o riso da face da terra. Alegria é nota dominante de todas as Disciplinas. O objetivo das Disciplinas é o livramento da sufocante escravidão ao auto-interesse e ao medo. Quando a disposição interior de alguém é libertada de tudo quanto o subjuga, dificilmente se pode descrever essa situação como tarefa ingrata e monótona. Cantar, dançar, até mesmo gritar, caracterizam as Disciplinas da vida espiritual.

Num importante sentido, as Disciplinas Espirituais não são difíceis. Não precisamos estar bem adiantados em questões de teologia para praticar as Disciplinas. Os recém-convertidos, até mesmo as pessoas que ainda não se entregaram a Jesus – deveriam praticá-las. A exigência fundamental é suspira por Deus. O salmista escreveu: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Salmo 42:1, 2).

Os principiantes são bem-vindos. Eu também ainda sou principiante, especialmente depois de vários anos de praticar cada Disciplina apresentada neste livro. Conforme disse Thomas Merton: “Não desejamos ser principiantes. Mas, convençamo-nos do fato de que, por toda a vida, nunca seremos mais que principiantes!”

O Salmo 42:7 diz: “Um abismo chama outro abismo.” Talvez algures nas câmaras subterrâneas de sua vida tenha você ouvido o chamado para um viver mais profundo, mais pleno. Talvez você se tenha cansado das experiências frívolas e do ensino superficial. De quando em quando você tem captado vislumbres, insinuações de algo que ultrapassa aquilo que você tem conhecido. Interiormente você tem suspirado por lançar-se em águas mais profundas.

Os que têm ouvido o distante chamado do seu íntimo e desejam explorar o mundo das Disciplinas Espirituais, imediatamente se defrontam com duas dificuldades.

A primeira é de ordem filosófica. A base materialista em nossa época tornou-se tão penetrante que ela tem feito as pessoas duvidarem seriamente de sua capacidade de ir além do mundo físico. Muitos cientistas de primeira categoria têm ido além de tais dúvidas, sabendo que não podemos estar confinados a uma caixa de espaço-tempo. Mas a pessoa comum é influenciada pela ciência popular que está uma geração atrás dos tempos e é preconcebida contra o mundo não-material.

CELEBRACAO_DA_DISCIPLINA_1362857616PÉ difícil exagerar quão saturados estamos com a mentalidade da ciência popular. A meditação, por exemplo, se de algum modo permitida, não é considerada como contato com um mundo espiritual real, mas como manipulação psicológica. Geralmente as pessoas tolerarão um breve toque na “jornada interior”, mas logo chega a hora de haver-se com os negócios reais do mundo real. Necessitamos de coragem para ir além do preconceito de nossa época e afirmar com os nossos melhores cientistas que existe mais do que o mundo material. Com honestidade intelectual, deveríamos dispor-nos a estudar e explorar este outro reino com todo o rigor e determinação que daríamos a qualquer campo de pesquisa.

A segunda dificuldade é de ordem prática. Simplesmente não sabemos como explorar a vida interior. Isto nem sempre tem sido verdadeiro. No primeiro século e anteriormente, não era necessário dar instruções sobre como “praticar” as Disciplinas da vida espiritual. A Bíblia chamou o povo a Disciplinas tais como jejum, meditação, adoração e celebração e quase não deu instrução nenhuma sobre a forma de executá-las. É fácil de ver a razão por quê. Essas Disciplinas eram tão freqüentemente praticadas e de tal modo constituíam parte da cultura geral que o “como fazer” era conhecimento comum. Jejuar, por exemplo, era tão comum que ninguém perguntaria o que comer antes de um jejum, como quebrar um jejum, ou como evitar a vertigem enquanto jejuava – toda a gente já sabia.

Isto não se verifica em nossa geração. Hoje existe uma ignorância abismal dos mais simples e práticos aspectos de quase todas as Disciplinas Espirituais clássicas. Daí que qualquer livro escrito sobre o assunto deve levar essa necessidade em consideração e prover instrução prática sobre a mecânica de Deus das Disciplinas. É preciso, porém, logo de início dizer uma palavra de acautelamento: conhecer a mecânica não significa que estamos praticando a Disciplina. As Disciplinas Espirituais são uma realidade interior e espiritual, e a atitude interior do coração é muito mais decisiva do que a mecânica para se chegar à realidade da vida espiritual.

A Escravidão de Hábitos arraigados

Acostumamo-nos a pensar no pecado como atos individuais de desobediência a Deus. Isto é bem verdade até certo ponto, mas a Bíblia vai muito mais longe.

Na sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo freqüentemente se refere ao pecado como uma condição que infesta a raça humana (i. é., Romanos 3:9- 18). O pecado como condição abre seu caminho através dos “membros do corpo”; isto é, os hábitos enraizados do corpo (Romanos 7:5 e seguintes). E não há escravidão que possa comparar-se à escravidão de hábitos pecaminosos arraigados.

Diz Isaías 57:20: “Os perversos são como o mar agitado, que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo.” O mar não necessita fazer nada de especial para produzir lama e lodo; isto é o resultado de seus movimentos naturais. É o que também se verifica conosco quando nos achamos sob a condição de pecado. Os movimentos naturais de nossas vidas produzem lama e lodo. O pecado é parte da estrutura interna de nossas vidas. Não há necessidade alguma de esforço especial. Não é de admirar que nos sintamos enredados.

Nosso método comum de lidar com o pecado arraigado é lançar um ataque frontal.

Confiamos em nossa força de vontade e determinação. Qualquer que seja nosso problema – ira, amargura, glutonaria, orgulho, incontinência sexual, álcool, medo – decidimos nunca mais repeti-lo; oramos contra ele, lutamos contra ele, dispomos nossa vontade contra ele. Tudo, porém, é em vão e uma vez mais nos encontramos moralmente falidos ou, pior ainda, tão orgulhosos de nossa justiça exterior que “sepulcros branqueados” é uma descrição suave de nossa condição.

book_r201Heini Arnold, em seu excelente livrinho intitulado Freedon From Sinful Thoughts (Liberdade de Pensamentos Pecaminosos), escreve: “Desejamos deixar perfeitamente claro que não podemos livrar e purificar nosso próprio coração exercitando nossa própria `vontade’“.

Na carta aos Colossenses, Paulo cita algumas formas exteriores que as pessoas usam para controlar o pecado: “não manuseies, não proves, não toques.” E então acrescenta que estas coisas “com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo” – que frase expressiva, e como descreve bem muita coisa de nossas vidas! No momento em que achamos que podemos ter êxito e alcançar a vitória sobre o pecado mediante a força de nossa vontade somente, esse é o momento em que estamos cultuando a vontade. Não é uma ironia que Paulo tenha olhado para nossos mais estrênuos esforços na caminhada espiritual e os tenha chamado de “culto de si mesmo”?

A força de vontade nunca terá êxito no trato com os hábitos profundamente arraigados do pecado. Emmet Fox escreve: “Tão-logo você resista mentalmente a qualquer circunstância indesejável ou não buscada, por esse próprio meio você a dotará de mais poder – poder que ela usará contra você, e você terá esgotado seus próprios recursos nessa exata medida.” Heini Arnold conclui: “Enquanto acharmos que podemos salvar-nos a nós mesmos por nossa própria força de vontade, a única coisa que fazemos é tornar o mal que há em nós mais forte do que nunca.” Esta mesma verdade tem sido comprovada por todos os grandes escritores da vida devocional, desde S. João da Cruz até Evelyn Underhill.

O “culto de si mesmo” talvez possa ter uma demonstração exterior de êxito por algum tempo, mas nas brechas e nas fendas de nossa vida sempre há de revelar-se nossa profunda condição interior. Jesus descreveu tal condição quando falou da exibição exterior de justiça dos fariseus. “Porque a boca fala do que está cheio o coração. … Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia de juízo” (Mateus 12:34-36). Mediante a força de vontade as pessoas podem fazer boa figura durante algum tempo; cedo ou tarde, porém, virá o momento desprevenido quando a “palavra frívola” escapará, revelando o verdadeiro estado do coração. Se estivermos cheios de compaixão, isto será revelado; se estivermos cheios de amargura, isto também se manifestará.

Não temos a intenção de que seja assim. Não temos intenção nenhuma de explodir a ira ou de ostentar uma tenaz arrogância, mas quando estamos com outras pessoas, aquilo que somos vem à tona. Embora tentemos ocultar essas coisas com todas as nossas forças, somos traídos pelos olhos, pela língua, pelo queixo, pelas mãos, pela linguagem de todo o nosso corpo. A força de vontade não tem defesa contra a palavra frívola, contra o momento desprevenido. A vontade tem a mesma deficiência da lei – ela pode lidar somente com as exterioridades. Não é suficiente para operar a transformação necessária da disposição interior.

As Disciplinas Espirituais abrem a Porta

Quando perdemos a esperança de obter a transformação interior mediante as forças humanas da vontade e da determinação, abrimo-nos para uma maravilhosa e nova realização: a justiça interior é um dom de Deus que deve ser graciosamente recebido. A imperiosa necessidade de mudança dentro de nós é obra de Deus e não nossa. É preciso que haja um trabalho real interno, e só Deus pode operar a partir do interior. Não podemos alcançar ou merecer esta justiça do reino de Deus; ela é uma graça concedida ao homem.

Na carta aos Romanos o apóstolo Paulo esforça-se a fim de demonstrar que a justiça é um dom de Deus. Ele emprega o termo trinta e cinco vezes nessa epístola, e cada vez que o emprega fá-lo com êxito pelo fato de que a justiça não é atingida nem atingível mediante esforço humano. Uma as mais claras afirmações é Romanos 5:17: “… os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça, reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo.” Esse ensino, evidentemente, não se encontra só em Romanos mas na Bíblia toda e se apresenta como uma das pedras angulares da fé cristã.

No momento em que captamos esta compreensão palpitante, corremos o risco de um erro no sentido oposto. Somos tentados a crer que nada há que possamos fazer.

Se os esforços humanos terminam em falência moral (e tendo-o tentado, sabemos que é assim), e se a justiça é um dom gratuito de Deus (conforme a Bíblia o declara com clareza), então não é lógico deduzir que devemos esperar que Deus venha e nos transforme? Por estranho que pareça, a resposta é “não”. A análise é correta: o esforço humano é insuficiente e a justiça é o dom de Deus. O que é falha é a conclusão, pois felizmente existe algo que podemos fazer. Não precisamos agarrar-nos às pontas do dilema das obras nem da ociosidade humanas.

Deus nos deu as Disciplinas da vida espiritual como meios de receber sua graça.

As Disciplinas permitem-nos colocar-nos diante de Deus de sorte que ele possa transformar-nos.

O apóstolo Paulo disse: “O que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna” (Gálatas 6:8). O lavrador não consegue fazer germinar o grão; tudo o que ele pode fazer é prover as condições certas para o crescimento do grão.

Ele lança a semente na terra onde as forças naturais assumem o controle e fazem surgir o grão. O mesmo acontece com as Disciplinas Espirituais – elas são um meio de semear para o Espírito. As Disciplinas são o meio de Deus plantar-nos na terra; elas nos colocam onde ele possa trabalhar dentro de nós e transformar-nos. Sozinhas, as Disciplinas Espirituais nada podem fazer; elas só podem colocar-nos no lugar onde algo possa ser feito. Elas são os meios de graça de Deus. A justiça interior que buscamos não é algo que seja derramado sobre nossas cabeças. Deus ordenou as Disciplinas da vida espiritual como meios pelos quais somos colocados onde ele pode abençoar-nos.

Neste sentido, seria próprio falar do “caminho da graça disciplinada”. É “graça” porque é grátis; é “disciplinada” porque existe algo que nos cabe fazer. Em The Cost of Discipleship (O Custo do Discipulado), Dietrich Bonhoeffer deixa claro que a graça é grátis, mas não é barata. Uma vez que entendemos com clareza que a graça de Deus é imerecida e imerecível, se esperamos crescer devemos iniciar um curso de ação conscientemente escolhida, que inclua tanto a vida individual como em grupo. Essa é a finalidade das Disciplinas Espirituais.

CelebracaodisciplinaSeria conveniente visualizar o que vimos estudando. Imaginemos uma passagem estreita com um declive íngreme de cada lado. O abismo da direita é o caminho da falência moral por meio dos esforços humanos para alcançar a justiça.

Historicamente se tem dado a isto o nome de heresia do moralismo. O abismo da esquerda é o caminho da falência moral pela ausência de esforços humanos. Este tem sido denominado heresia do antinomianismo. Essa passagem representa um caminho – as Disciplinas da vida espiritual. Este caminho conduz à transformação interior e à cura que buscamos. Não devemos desviar-nos para a direita nem para a esquerda, mas permanecer no caminho. Este está cheio de sérias dificuldades, mas também conta com incríveis alegrias. À medida que andamos neste caminho, a bênção de Deus virá sobre nós e nos reconstruirá à imagem de seu Filho Jesus Cristo. Devemos lembrar-nos sempre de que o caminho não produz a mudança; ele apenas nos coloca no lugar onde a mudança pode ocorrer. Este é o caminho da graça disciplinada.

Há um ditado em teologia moral que diz que “virtude é fácil”. Isto é verdadeiro somente até onde a obra graciosa de Deus tenha assumido o comando de nossa disposição interior e transformado os padrões de hábitos arraigados de nossas vidas. Enquanto isto não se realizar, a virtude é difícil, difícil mesmo.

Lutamos por exibir um espírito amável e compassivo; não obstante é como se estivéssemos levando para dentro algo trazido do exterior. Surge então, das profundezas interiores, a única coisa que não desejávamos: um espírito mordaz e amargo. Contudo, uma vez que tenhamos vivido no caminho da graça disciplinada por uma temporada, descobrimos mudanças internas.

Não fizemos nada mais do que receber um dom, não obstante sabemos que as mudanças são reais. Sabemos que são reais porque verificamos que o espírito de compaixão que outrora achávamos tão difícil, é agora fácil. Na realidade, difícil seria estar cheio de amargura. O Amor divino entrou em nossa disposição interior e assumiu o controle de nossos padrões de hábitos. Nos momentos desprevenidos, brota do santuário interior de nossa vida um fluxo espontâneo de “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22, 23). A necessidade cansativa de ocultar dos outros aquilo que somos interiormente já não existe.

Não temos de esforçar-nos para ser bons e generosos; somos bons e generosos.

Difícil seria refrear-nos de ser bons e generosos, porque a bondade e a generosidade fazem parte de nossa natureza. Assim como os movimentos naturais de nossa vida outrora produziam lama e lodo, agora eles produzem o fruto do Espírito. Shakespeare escreveu: “A qualidade da misericórdia não é forçada” – nem o são quaisquer das virtudes espirituais uma vez que elas assumam o comando da personalidade.

O Caminho da Morte: Transformar as Disciplinas em Leis

As Disciplinas Espirituais visam ao nosso bem. Elas têm por finalidade trazer a abundância de Deus para nossa vida. É possível, contudo, torná-las em outro conjunto de leis que matam a alma. As Disciplinas dominadas pela lei respiram morte.

Jesus ensinou que devemos ir além da justiça dos escribas e fariseus (Mateus 5:20). Todavia, precisamos ver que tal justiça não era coisa de somenos. Eles estavam comprometidos em seguir a Deus numa forma para a qual muitos de nós não estamos preparados. Um fator, contudo, era sempre central à sua justiça: exterioridade. A justiça deles consistia em controlar as aparências externas, muitas vezes incluindo a manipulação de outras pessoas. Até que ponto temos ido além da justiça dos escribas e fariseus pode ser visto no quanto nossa vida demonstra a obra interna de Deus no coração. Ela produzirá resultados externos, mas a obra será interna. É fácil, em nosso zelo pelas Disciplinas Espirituais, torná-las na justiça exterior dos escribas e fariseus.

religiao-espiritismo-en-livros-areas-interesse-405901-MLB20423314712_092015-YQuando as Disciplinas se degeneram em lei, elas são usadas para manipular e controlar pessoas. Tomamos ordens explícitas e as usamos para aprisionar outros. O resultado de tal deterioração das Disciplinas Espirituais é orgulho e medo. O orgulho domina porque chegamos a crer que somos o tipo certo de pessoas. O medo domina porque o poder de controlar os outros traz consigo a ansiedade de perder o controle, e a ansiedade de ser controlado por outros.

Se quisermos progredir no caminhar espiritual de sorte que as Disciplinas sejam bênção e não maldição, devemos chegar, em nossas vidas, ao lugar onde depomos a carga eterna da necessidade de dirigir os outros. Essa necessidade, mais do que qualquer outra coisa, levar-nos-à a transformar as Disciplinas Espirituais em leis. Uma vez que criamos uma lei, temos uma “exterioridade” pela qual podemos julgar quem está à altura e quem não está. Sem leis, as Disciplinas são, antes de tudo, uma obra interna e é impossível controlar uma obra interna. Quando verdadeiramente cremos que a transformação interior é obra de Deus e não nossa, podemos dar descanso a nossa paixão por endireitar a vida dos outros.

Devemos estar cônscios de quão rapidamente podemos agarrar esta ou aquela palavra e transformá-la em lei. No momento em que assim procedemos, qualificamo-nos para o severo pronunciamento de Jesus contra os fariseus: “Atam fardos pesados (e difíceis de carregar) e os põem sobre os ombros dos homens, entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (Mateus 23:4).

Em questões assim necessitamos das palavras do apóstolo Paulo embutidas em nossas mentes: “Não tratamos da letra, mas do Espírito. É que a letra da lei conduz à morte da alma” (2 Coríntios 3:6, Phillips).

Ao entrarmos no mundo interior das Disciplinas Espirituais, sempre haverá o perigo de torná-las em lei. Mas não estamos abandonados aos nossos próprios inventos humanos. Jesus Cristo prometeu ser nosso Professor e Guia sempre presente. Sua voz não é difícil de ser ouvida. Não é difícil entender suas instruções. Se começarmos a calcificar o que deveria sempre permanecer vivo e crescente, ele nos dirá. Podemos confiar em seu ensino. Se nos desviarmos para alguma idéia errônea ou prática inaproveitável, ele nos conduzirá de volta. Se estivermos dispostos a ouvir o Instrutor Celestial, receberemos a instrução de que necessitamos.

Nosso mundo está faminto de pessoas verdadeiramente transformadas. Leon Tolstói observou: “Todos pensam em mudar a humanidade e ninguém pensa em mudar a si mesmo.” Estejamos entre os que crêem que a transformação interior de nossa vida é um alvo digno de nosso melhor esforço.

 

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Richard J. Foster é um teólogo cristão e autor da Quaker tradição. Seus escritos falam para um público amplo cristã. Ele foi professor na Universidade de Amigos e do pastor evangélico Amigos igrejas. Foster reside em Denver, Colorado . Obteve o seu diploma de graduação na Universidade George Fox , em Oregon e seu doutorado em Teologia Pastoral no Seminário Teológico Fuller.

 

AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS: Porta do Livramento – Richard J. Foster

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