O que é Graça? – Abraham Booth

Paulo emprega a palavra “graça” para significar o oposto de “obras e méritos”. “Pela graça sois salvos. … não por obras” (Ef. 2:8-9).

Graça significa favor imerecido ou favor dado sem que seja ganho por esforço algum. Pela palavra “misericórdia” entendemos que alguém em dificuldade Abraham_Booth_1827ou derrotado, está recebendo um benefício. Misericórdia faz supor uma pessoa sofredora a quem ela é concedida. Semelhantemente, “graça” sempre pressupõe indignidade na pessoa que a recebe. Se alguém nos dá qualquer coisa por graça, é porque nós não a merecemos. Qualquer coisa que mereçamos por direito, não pode ser nossa por graça. Graça e mérito não podem estar ligados no mesmo ato. São realidades tão opostas como luz e trevas.

“Se é por graça, então não é por obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rom. 11:6). Assim, dizemos que nós recebemos a graça de Deus. Estamos dizendo, ao mesmo tempo, que somos indignos dela e que não podemos trabalhar por ela. Desta maneira, definimos graça como ela é usada no Novo Testamento, ou seja, “O eterno e absolutamente livre favor de Deus concedido a pessoas indignas e culpadas na doação de bênçãos espirituais e eternas”.

A graça de Deus é eterna

À graça, de modo algum, depende do mérito humano; depende só da vontade de Deus. Não é ganha por mérito nem perdida por culpa. A graça é absolutamente livre de qualquer influência humana. Portanto nada há que possa derrotá-la, uma vez que ela foi dada. Por isso, Deus pode dizer: “… pois que com amor eterno te amei” (Jer. 31:3). Tal é a gloriosa base da nossa salvação!

Graça não é como uma franja de ouro na fímbia do vestuário; não é como um enfeite que decora um vestido; porém, é como o propiciatório do Tabernáculo, que era de ouro — de ouro puro — inteiramente de ouro! Portanto, aprendemos como estão seriamente enganados os que sugerem que a graça de Deus pode ser alcançada pelas boas obras. A graça de Deus recusa-se a ser ajudada naquilo que ela tem de fazer. Não seria um insulto à soberania de Deus sugerir que Ele precisa de ajuda do pobre desempenho do homem? A graça, ou é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum.

Salvação, totalmente gratuita!

A graça “reina”, diz Paulo em nosso texto (Rom. 5:21). Assim, a graça é comparada a um rei. Nos versículos anteriores, também o pecado é comparado a um rei. Como o pecado aparece armado de poder destrutivo, infligindo a morte, assim a graça aparece armada de invencível poder, amorosamente determinada a salvar. E “onde o pecado abundou, a graça o superou em tudo”(v. 20). Assim, o controle é da graça.

Em outras palavras: aqueles a quem Deus salva por Sua vontade misericordiosa, certamente estão totalmente salvos. Se Deus graciosamente resgata homens do poder do pecado, e lhes dá novas habilidades espirituais, então, não serão deixados para se fazerem suficientemente santos para entrarem no céu. Se a obra graciosa de Deus ficasse restrita a isso, a consequência final ainda seria duvidosa; a graça não estaria reinando. Além disso — admitindo-se que tal coisa fosse possível — os que conseguissem santificar-se por seus próprios esforços, ficariam muito, orgulhosos pelo que fizeram — o que seria diametralmente o oposto da graça!

Portanto, se a graça há de reinar, ela tem que ser o único meio de salvação. Por Sua vontade misericordiosa, Deus não apenas tem que começar, mas também continuar e completar a salvação do pecador. Então, se pode dizer com certeza que a graça “reina”. Certamente uma certeza maravilhosa como esta glorifica a Deus.

A graça se adapta melhor à nossa necessidade do que qualquer outra coisa. Visto que o pecado é um tirano que reina sobre nós, e pretende levar-nos à morte eterna, que esperança podemos ter de salvação firmados em nossos próprios esforços? Quando nossas consciências ficam alarmadas por causa de nossas muitas falhas vergonhosas, não entramos em desespero? Lembre-se, porém, de que a salvação é pela graça de Deus! A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo. O pecado não pode destruir o valor disso. A graça pode reinar sobre a maior indignidade. Na verdade, é só com o indigno que a graça se preocupa. Isso é assombroso! Isso é maravilhoso! Há esperança de salvação para o pior indivíduo, se é que ela é assegurada pela riqueza da graça que reina.

Teremos que ver nas próximas vezes como a graça reina na nossa eleição — chamamento, perdão justificação, adoção, santificação e perseverança.

Abraham Booth (1734-1806)

Fonte: The Reign of Grace

O que é Graça? – Abraham Booth

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