Os Cânones de Dort (1618 * 1619) – Capítulo 2

Os Cânones de Dort, ou cânones de Dordrech, intitulados formalmente como A Decisão do Sínodo de Dort sobre os Cinco Pontos Principais de Doutrina em Disputa na Holanda, são o resultado do sínodo internacional, pois não se compunha apenas de delegados das Igrejas Reformadas dos países Baixos; vinte sete representantes de Igrejas estrangeiras, tanto continentais como insulares (ilhas), também participaram, acontecido na cidade holandesa de Dordrech, em 1618/19.

A doutrina expressa nos cânones de Dort é também conhecida como os Cinco pontos contra os Remonstrantes.

Segundo Capítulo da Doutrina: A Morte de Cristo e a Redenção do Homem Através Dela

Artigo 1 — O castigo que a justiça de Deus exige

Deus não é apenas supremamente misericordioso, mas também é supremamente justo. E conforme Ele mesmo revelou em Sua Palavra, a Sua justiça exige que os nossos pecados, cometidos contra a Sua infinita majestade, sejam castigados não apenas nessa era, mas também na era porvir, tanto no corpo quanto na alma. Não podemos escapar desse castigo se a justiça de Deus não for satisfeita.

Referências Bíblicas: Êx 34.6, 7; Rm 5.16; Gl 3.10.

Artigo 2 — A satisfação cumprida por Cristo

Nós, contudo, não podemos cumprir essa satisfação e nos livrar por nós mesmos da ira de Deus. Por isso Deus, em Sua infinita misericórdia nos deu o Seu filho unigênito como o nosso fiador. Por nós ou em nosso lugar Ele foi feito pecado e maldito na cruz para que pudesse, em nosso favor, satisfazer a Deus.

Referências Bíblicas: Rm 5.8; 2Co 5.21; Gl 3.13. 

Artigo 3 — O valor infinito da morte de Cristo

A morte do Filho de Deus é o único e o mais perfeito sacrifício e satisfação pelos pecados; tem valor e mérito infinitos; é abundante o suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro.

Referências Bíblicas: Hb 9.26, 28; 10.14; 1Jo 2.2. 

Artigo 4 — Por que a Sua morte tem valor infinito

A morte do Filho de Deus tem tão grande valor e mérito porque Aquele que se submeteu a ela não é apenas o homem perfeito e verdadeiro, mas é também o filho unigênito de Deus, da mesma essência eterna e infinita com o Pai e o Espírito Santo. O nosso Salvador tinha que ter tais qualificações. Além disso, essa morte tem tão grande valor e mérito porque foi acompanhada da cons- ciência da ira e da maldição de Deus que, pelos nossos pecados, somos merecedores.

Referências Bíblicas: Hb 4.15; 7.26; 1Jo 4.9; Mt 27.46. 

Artigo 5 — A proclamação universal do evangelho

A promessa do evangelho é que todo aquele que crer em Cristo crucificado não perecerá, mas tem a vida eterna. Esta promessa deve ser anunciada e proclamada universalmente sem nenhuma discriminação a todos os povos e homens, aos quais Deus em Seu beneplácito envia o evangelho juntamente com o mandamento de que se arrependam e creiam.

Referências Bíblicas: Jo 3.16; 1Co 1.23; Mt 28.19; At 2.38; 16.31.

Artigo 6 — Por que alguns não crêem

No entanto, muitos dos que foram chamados pelo evangelho não se arrependem nem crêem em Cristo mas perecem na incredulidade. Isso não decorre por haver alguma defeito ou insuficiência no sacrifício de Cristo na cruz, mas pela própria culpa deles.

Referências Bíblicas: Mt 22.14; Sl 95.11; Hb 4.6.

Artigo 7 — Por que outros crêem

Mas aqueles que verdadeiramente crêem e pela morte de Cristo são libertos e salvos dos seus pecados e da perdição, recebem esse benefício apenas por causa da graça de Deus que lhes é dada em Cristo, desde a eternidade. Deus não deve tal graça a ninguém.

Referências Bíblicas: 2Co 5.18; Ef 2.8, 9.

Artigo 8 — A eficácia da morte de Cristo

Pois este foi o soberano conselho de Deus o Pai que a eficácia salvadora e vivificante da preciosíssima morte do Seu Filho se estendesse a todos os eleitos. Foi da Sua graciosíssima vontade e intento conceder a fé justificadora apenas a eles e assim trazerlhes infalivelmente a salvação. Isto é: Quis Deus que Cristo pelo sangue da cruz (pelo qual Ele confirmou a nova aliança) redimisse eficazmente de todo povo, tribo, nação e língua todos aqueles — e somente aqueles — que desde a eternidade foram eleitos para a salvação e Lhe foram dados pelo Pai. Ainda quis Deus que Cristo lhes desse a fé, a qual, juntamente com outros dons salvadores do Espírito Santo, Ele lhes adquiriu pela Sua morte, para que pelo Seu sangue pudesse purificá-los de todos os seus pecados — tanto do pecado original quanto dos pecados re- ais cometidos antes e depois da fé — e para os guardar fielmente até o fim e finalmente os apresentar a Si mesmo em glória sem nenhuma mácula ou ruga.

Referências Bíblicas: Jo 17.9; Ef 5.25-27; Lc 22.20; Hb 8.6; Ap 5.9; Fp 1.29; 1Jo 1.7; Jn 10.28; Ef 5.27.

Artigo 9 — O cumprimento do conselho de Deus

Esse conselho, que procede do amor eterno de Deus pelos eleitos, tem sido poderosamente cumprido desde a fundação do mundo até o momento presente, e continuará ainda a ser cumprido, ainda que as “portas do inferno” tentem frustrá-lo inutilmente. No tempo oportuno os eleitos serão ajuntados em uma união, e sempre existirá uma igreja de crentes fundada no sangue de Cristo. Essa igreja amá-Lo-á firmemente e servi-Lo-á fielmente como seu salvador (o qual como noivo derramou a Sua vida na cruz pela Sua noiva) e celebrará os seus louvores aqui e por toda a eternidade.

Referências Bíblicas: Mt 16.18; Jo 11.52; 1Rs 19.18; Ef 5.25.

Rejeição de Erros

Depois de haver explanado a verdadeira doutrina da morte de Cristo e da redenção do homem pela Sua morte, o Sínodo condena e rejeita os seguintes erros:

Erro 1

— Deus Pai ordenou a morte do Seu Filho na cruz sem que houvesse um decreto específico e definitivo para a salvação de ninguém. Aquilo que Cristo adquiriu pela Sua morte poderia ser necessário, proveitoso e valioso, e poderia permanecer em todas as sua partes completo, perfeito e intacto, mesmo que a redenção adquirida por Ele jamais fosse aplicada a ninguém.

Refutação

— Tal doutrina ofende a sabedoria de Deus e aos méritos de Jesus Cristo e é contrária à Escritura. Pois o nosso Salvador diz: “dou a minha vida pelas ovelhas … eu as conheço” (Jo 10.15, 27). E o profeta Isaías, referindo-se ao Salvador, diz: “quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos” (Is 53.10). Por fim, esse erro contradiz o artigo de fé que se refere à igreja cristã universal.

Erro 2

— O propósito da morte de Cristo não foi que Ele confirmasse o novo pacto de graça pelo Seu sangue, mas tão-somente que adquirisse para o Pai o mero direito de estabelecer uma vez mais com o homem a aliança que Lhe agradasse, fosse ela de graça ou de obras.

Refutação

— Isso milita contra a Escritura que ensina que Cristo se tornou o Fiador e o Mediador de uma superior aliança, isso é, de uma nova aliança; ensina também que um testamento só passa a vigorar com a morte (Hb 7.22, 9:15, 17).

Erro 3

— Cristo, por meio da Sua satisfação, na verdade não mereceu para ninguém nem a salvação mesma nem a fé pela qual é possível se apropriar eficazmente dessa satisfação de Cristo para a salvação. Ele conquistou para o Pai apenas a autoridade ou a vontade perfeita de tratar novamente com o homem e de prescrever novas condições conforme a Sua vontade. Depende entretanto do livre arbítrio do homem para preencher estas condições. Seria possível, portanto, que ou nenhum ou todos os homens preenchessem tais condições.

Refutação

— Aqueles que ensinam esse erro desprezam a morte de Cristo, não reconhecem de maneira nenhuma o mais importante fruto ou benefício dela, e trazem novamente do inferno o erro pelagiano.

Erro 4

— A nova aliança da graça que Deus o Pai fez com homem, pela mediação da morte de Cristo, não consiste em que somos justificados diante de Deus e salvos pela fé, visto que aceita o mérito de Cristo. Mas consiste no fato de que Deus revogou a exigência da perfeita obediência à lei e que considera a própria fé e a obediência da fé, embora imperfeitas, como a perfeita obediência à lei e Ele, graciosamente, as considera dignas da recompensa da vida eterna.

Refutação

— Essa doutrina contradiz a Escritura: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé” (Rm 3.24, 25). Aqueles que ensinam essa erro proclamam, como fizera o ímpio Socinus, uma nova e estranha justificação do homem diante de Deus, contrário ao consenso de toda a igreja.

Erro 5 

— Todos os homens foram aceitos no estado de reconciliação e na graça da aliança, de sorte que ninguém está sujeito à condenação nem será condenado por causa do pecado original. Todos estão livres da culpa do pecado original.

Refutação

— Essa opinião conflita com a Escritura que ensina que somos, “por natureza, filhos da ira” (Ef 2.3).

Erro 6

— Deus, por Seu lado, deseja conceder igualmente a todos os benefícios adquiridos pela morte de Cristo. Alguns, no entanto, obtêm o perdão dos pecados e a vida eterna e outros não. Essa distinção depende do próprio livre arbítrio deles, que se associa à graça que é oferecida sem distinção, e não depende do dom especial de misericórdia que neles opera com tanto poder a fim de que eles, ao contrário dos outros, apliquem essa graça a si mesmos.

Refutação

— Aqueles que ensinam isso, fazem mal uso da diferença que há entre a aquisição e a aplicação da salvação e confundem as mentes dos imprudentes e inexperientes. Embora simulem apresentar essa distinção de modo correto, procuram infiltrar na mente das pessoas o veneno pernicioso do pelagianismo.

Erro 7

— Cristo não podia nem precisava morrer, e não morreu por aqueles a quem Deus amou sobremaneira e a quem elegeu para a vida eterna, pois os tais não necessitavam da Sua morte.

Refutação

— Essa doutrina contradiz o apóstolo que declara: O “Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). Semelhantemente: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu” (Rm 8.33, 34), isto é, por eles. E o Salvador assim nos assegura: “dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.15). E ainda: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.12, 13).

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Os Cânones de Dort (1618 * 1619) – Capítulo 2

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