A VINHA – D. Martin Lloyd-Jones

Agora, cantarei ao meu amado o cântico do meu amado a respeito da sua vinha.

O meu amado teve uma vinha num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre e também abriu um lloyd-jones-preachinglagar. Ele esperava que desse uvas boas, mas deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu Lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? Agora, pois, vos farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada; torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. (Isaías 5:1-7).

Estas palavras, como o próprio profeta nos diz, formam um poema ou cântico sobre o estado e a condição do povo de Israel, nos dias em que Deus levantou o profeta Isaías para lhes falar. Os profetas eram homens muito práticos. Não devemos pensar neles como sendo apenas homens de literatura ou poesia que decidiram entrar para essa carreira pelo fato de a apreciarem. Não, todos eles nos dizem que foram chamados por Deus para entregar uma mensagem aos seus compatriotas. Eles não queriam fazer isso. Alguns, na verdade, revelam-nos com honestidade, que resistiram fortemente ao chamado de Deus. Eles sabiam que a sua mensagem não seria agradável, e eles não queriam ser impopulares, não desejavam sofrer.

Estavam conscientes, porém, do chamado de Deus, e, além disso, convencidos de que Ele lhes entregara uma mensagem. Não que houvessem olhado para o mundo e chegado a algumas conclusões, como hoje acontece quando determinadas pessoas as registram em artigos de jornais ou livros, ao observarem certas coisas e apresentarem sugestões que julgam ter algum valor. Esta não era a posição dos profetas. Eles afirmam em seus escritos que tudo lhes foi dado por Deus. Deus lhes abriu os olhos, deu-lhes entendimento, chamou-os e lhes ordenou que entregassem a mensagem por Ele destinada ao povo.

E isso foi o que Isaías fez. Ele se dirigiu à sua nação e lhes disse exatamente a razão de as coisas estarem do jeito que estavam; porque, quando ele escreveu, o povo já enfrentava problemas. A nação, que fora grande e poderosa, estava entrando em dias maus; tudo ia muito mal, e é claro que havia todo tipo de pessoas se apressando a dar suas opiniões. Então, mediante esse homem veio esta mensagem de Deus: “Esta é a causa do seu problema; é exatamente por esta razão que estas coisas estão acontecendo com vocês.” Além disso, ele profetizou sobre o que iria suceder a eles se continuassem como estavam e se recusassem a se arrepender e a se voltar para Deus.

livro-uma-nacao-sob-a-ira-de-deusEste é o resumo da mensagem do grande profeta Isaías, mas é claro que ela vale também para os outros profetas. Todos eles tinham a mesma mensagem para dar; todos a receberam de Deus. Eles a apresentaram de formas diferentes porque Deus não os usou como meras máquinas; a personalidade do homem transparece. A mensagem, porém, era de Deus e não do homem.

Este é o ponto que desejo aqui e agora ressaltar: em todas essas grandes mensagens proféticas, nós temos ao mesmo tempo, um resumo do que Deus está dizendo a todos os homens e mulheres. A nação de Israel é apenas um exemplar, um tipo estabelecido por Deus para que, mediante ela, possa falar a toda a humanidade. Parece que nos dias do Velho Testamento apenas o povo de Israel era o povo de Deus, mas é claro que o mundo inteiro pertencia a Ele naquela época, como acontece hoje. Eles eram seu povo apenas num sentido especial, como o povo cristão ou a Igreja são hoje seu povo de uma maneira especial. O mundo todo, porém, pertence a Deus. Então, quando estudamos o que Deus disse ao profeta desta nação em particular, estamos vendo ao mesmo tempo o que Ele tem a dizer a todo o mundo.

Uma coisa muito maravilhosa que transparece quando você lê a Bíblia e aprende a conhecê-la inteiramente, é que você descobre que ela é um livro atualizado e muito contemporâneo. É um livro que fala a todas as épocas e gerações, porque a humanidade permanece a mesma em todas as suas qualidades essenciais, e Deus continua o mesmo. Assim, a mensagem de Deus para o mundo é ainda esta velha mensagem, e eu quero mostrar-lhe quão relevante ela é para o mundo de hoje.

Veja esse povo de Israel; eles tinham problemas, as coisas estavam indo mal, e agora, finalmente depois de muito tempo, eles começavam a enxergá-los. Mas, que estava errado? Como isso acontecera? Que poderia ser feito com relação a isso? Essas eram as questões. E são as mesmas hoje. O mundo todo está com problemas, precisa de enxergar. É um mundo confuso e infeliz. Existem problemas em geral e problemas de ordem individual e particular. Ninguém vive nele sem perceber que há um elemento de luta e dificuldade. Os jornais estão sempre exibindo isso diante de nós: as tragédias que se sucedem; os desapontamentos.

Homens e mulheres conseguem enxergar isso, mas a dificuldade é que eles estão confusos e estarrecidos em relação à causa. Não há livro mais prático do que a Bíblia. Ela é o livro que fala ao mundo como ele se encontra neste exato momento. Por que não estamos perfeitamente felizes? Por que as nações não se estão unindo e trabalhando juntas pelo bem comum? Por que tantos problemas, discórdias, infelicidade e a conseqüente dor, tão evidentes em toda parte?

taçasO mundo ainda está atordoado com relação a isso, e todos os tipos de pessoas dão suas opiniões. Mas é meu dever e função colocar diante de você esta palavra de Deus: mostrar-lhe o que Ele está dizendo ao mundo de hoje, exatamente como disse mediante seu servo, o profeta Isaías, há oito séculos, antes do nascimento de Cristo. O mundo hoje ou não crê de jeito nenhum em Deus ou está lutando contra Ele, culpando-O por tudo, indagando a razão de Ele permitir isso e aquilo, sempre cheio de queixas e reclamações. Essa é a atitude do homem e da mulher modernos, como era a do povo de Israel no tempo do profeta Isaías.

Esta é, do início ao fim, uma grande mensagem da Bíblia: ela dá a resposta de Deus às perguntas: Que está errado com os homens e as mulheres? Por que se tornaram o que são? Como isso pode ser consertado? E a Bíblia tem uma variedade de modos de nos apresentar esta mensagem: mediante o ensino direto, a história e, algumas vezes, como aqui em Isaías 5, uma ilustração ou poema. Vemos aqui outra vez a grande misericórdia e compaixão de Deus. Todos somos diferentes; uma apresentação da verdade esclarece determinada pessoa, enquanto um outro modo de mostrá-la ajuda uma outra. Assim, a mensagem é apresentada a nós de diferentes maneiras, de forma que todos possamos vir a entender a verdade.

Vamos, então, examiná-la da forma como está sendo apresentada neste poema em particular. Isaías, em outras partes do seu grande livro, coloca a verdade crua, clara e direta. Aqui, porém, ele escreve um poema, pinta um quadro, um quadro de um homem que plantou uma vinha para si. Ele escolheu o melhor lugar que pôde encontrar, em uma colina muito promissora, com solo muito fértil. Removeu todas as pedras, cercou-o, colocou um muro ao redor e construiu uma torre. Então, plantou essas mudas escolhidas e aguardou uma grande colheita.

Mas, coitado, em lugar de colher uma excelente safra das mais doces e suculentas uvas, encontrou apenas uvas bravas. Isaías então explica a razão de isso haver acontecido, e faz um pronunciamento sobre o que esse homem fará. Assim, ao pintar o quadro, ao escrever o poema, o próprio Isaías faz a aplicação, dizendo: “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são sua planta estimada; ele procurou juízo mas eis aí opressão; justiça, e eis aí clamor” (Isaías 5:7).

Agora, deixe-me mostrar-lhe que esse poema é uma representação perfeita da grande mensagem da Bíblia sobre toda a raça humana. Essa é a mensagem do Evangelho cristão, da Salvação de Deus para o mundo atual, e não há nada mais urgente e relevante do que isso. Aqui, neste poema, o profeta inicialmente construiu uma figura geral – ele vai detalhá-la mais tarde –, de forma que possamos ver o que são os homens e as mulheres, e por que são assim. Isaías mostra também as conseqüências, a única esperança de salvação e a saída.

Qual é o problema do mundo? Por que as coisas estão como estão? A Bíblia, do começo ao fim, sempre dá esta resposta: primeiro, os homens e as mulheres estão ira Brasildefinitivamente com problemas porque não conhecem a verdade sobre si mesmos, nem crêem nela. Isso soa aos ouvidos modernos, é claro, como algo ridículo, porque nossa maior jactância é a de que temos maior conhecimento que qualquer criatura que haja existido antes de nós. Os tolos falam sobre o novo conhecimento que temos da natureza como o resultado do trabalho de Freud etc. : todas essas teorias que têm caracterizado nosso século XX. Mas o fato é que o problema principal de homens e mulheres ainda é que eles são tremendamente ignorantes quanto a si mesmos.

Este foi sempre o problema principal com o povo de Israel. Aqui estava uma nação que Deus fizera para si próprio. Havia outras nações no mundo, mas, em um certo momento, Deus escolheu um homem chamado Abrão (ou Abraão), que vivia em Ur dos Caldeus, e o chamou. Deus lhe disse: “Eu quero falar com você. Tenho uma mensagem para você. Quero fazer de você uma nação, um povo para mim mesmo.” E Ele o fez. Deste modo, a nação de Israel era distinta de todas as outras nações. Seus constantes problemas deviam-se ao fato de que ela nunca compreendeu aquela verdade; sempre queria pensar sobre si mesma em termos de outras nações.

Ela não gostava dessa singularidade; não apreciava responsabilidade; não gostava de ter os Dez Mandamentos e uma lei moral. E se perguntavam: “Por que não podemos fazer o que todos os outros fazem? Os outros povos não têm que guardar o sábado; eles podem comer tudo de que gostam, podem casar-se com qualquer um. Por que nós sempre temos que ser diferentes?” Este era seu problema constante. Eles nunca compreenderam quem eles eram, e sua singularidade como uma nação e um povo. E este permanece sendo o principal problema da humanidade. Ela é ignorante quanto à verdade sobre si mesma. Qual é a verdade? A resposta é dada nesse poema. Os homens e as mulheres foram criados por Deus. Assim como este homem criou esta vinha para si, Deus fez os homens e as mulheres para si próprio.

Agora, você pode ver de imediato que este é um ponto fundamental. Os homens e as mulheres são apenas animais? São realmente o resultado da operação de alguma força cega que exerceu seu poder num protoplasma, que ao final produziu seres humanos? Não existe nada exterior a eles, nada além deles? Ou seriam eles únicos e absolutamente especiais, criados pelo Todo-Poderoso para si mesmo, para seu prazer e deleite? Seriam os homens e as mulheres algum tipo de acidente biológico, ou são eles a coroa da Criação de Deus? A totalidade da argumentação bíblica afirma que a segunda hipótese é verdadeira.

Mas vamos trabalhar os detalhes, retratados tão perfeitamente neste quadro. Você observa que o que nos é dito sobre a vinha é o seguinte: “Ele a cercou, limpou-a das façamos a nossapedras e plantou com as melhores vinhas.” Que quadro maravilhoso da criação é este, de Deus, ao fazer o mundo para a humanidade! O homem na ilustração escolheu a mais promissora colina e, colocando-a perfeitamente em ordem, “plantou-a com as melhores mudas”. Isso é justamente uma figura e uma parábola do que nos é dito no início de Gênesis sobre a criação dos homens e das mulheres. “E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem e semelhança…”: “as melhores mudas”! O homem não é meramente um animal, seja lá o que você diga sobre o desenvolvimento desse animal.

É claro que o homem tem um corpo e há um tipo de relacionamento com o animal, mas o que faz o homem homem é esta coisa de ‘escolha’. “Deus soprou nas suas narinas o sopro da vida; e o homem se tornou alma vivente.” (Gênesis 2:7). Deus colocou na sua própria natureza – ‘a muda escolhida’ – algo dEle mesmo, dentro do homem. Os homens e as mulheres são feitos ‘à imagem e semelhança’ de Deus.

Eu sempre digo que, se não tivesse outra razão para ser cristão e rejeitar todas as teorias populares sobre a humanidade, para mim isso seria o suficiente. Todas as outras idéias são um insulto aos homens e às mulheres; fazem deles algo menor. Entretanto olhe para eles: veja sua grandeza, sua singularidade, feitos à imagem e semelhança de Deus, com um selo divino sobre eles, a imagem de Deus na alma!

E agora deixe-me enfatizar uma outra coisa. Deus colocou o homem e a mulher no que é chamado em Isaías de “uma colina muito fértil”. Então, “Ele a cercou e limpou-a das pedras”. Bem, isso é um poema, e as pessoas certamente gostam de ilustrações. Elas dizem que não podem ler muito ou ouvir longos sermões, mas se entretêm com uma boa ilustração… Ah, elas adoram uma figura! Então, estou aqui segurando uma figura diante de você. Aqui está o homem colocado: onde? No Paraíso! “Uma colina fertilíssima”! Um ambiente perfeito.

É da própria essência da argumentação bíblica dizer que no começo este mundo, no qual nos encontramos, não era o que é hoje. Este é um mundo decaído. Deus fez o homem e a mulher à sua imagem e os colocou no Paraíso. Essa vinha escolhida foi plantada numa “colina fertilíssima”, no melhor solo imaginável, posicionada para o sul, com tudo que fosse favorável e designado a estimular o crescimento e a produção. O homem e a mulher foram feitos por Deus e colocados no Paraíso numa posição de perfeição. Agora, estamos para sempre tentando entender por que o mundo está como está, e a resposta é que ele se tornou assim, não foi feito assim, não para ser do jeito que é. Isso está errado; é a Queda; é o mal.

Temos aqui de observar um dos detalhes. O quadro nos conta que ele “construiu uma torre no meio dela”, Que isso significa? Bem, o propósito de se construir uma torre naqueles antigos vinhedos era este: quando o dono da vinha estivesse ansioso para ir até lá, a fim de olhar as coisas e observar a maravilhosa colheita que estaria amadurecendo, se ele desejasse passar a noite ali, então teria a torre, e poderia ficar. Teria, então, oportunidade de fazer suas refeições nela, dormir; enfim, fazer o que quisesse. Ele construiu a torre no meio da vinha para sua própria conveniência. Ela também era usada com o propósito de proteção, mas basicamente se destinava a ter ele oportunidade de passar lá um pouco do seu tempo, desfrutando essa bênção.

Que quadro perfeito é esse, onde nos é contada a origem do homem?! Deus fez o homem à sua imagem e o colocou no Paraíso, e desceu e conversou com ele, e comungou com ele ali: o homem era o companheiro de Deus! Essa é a figura que nos é dada. O grande Deus fez o homem e a mulher para si próprio, não apenas para que usufruíssem companheirismo com Ele, mas para que Ele mesmo desfrutasse a companhia deles. Ele os fez para sua própria glória, e os colocou lá no meio do Jardim, no Paraíso. E que esperava deles? Bem, está tudo aqui. Nos termos do quadro de Isaías, ele esperava que “produzisse uvas”; ou, como na aplicação, ele procurou “Juízo”, que quer dizer julgamento, e procurou por “Justiça”, que quer dizer verdade e uma vida santa.

Isso é, obviamente, um assunto muito vital na atualidade. Quase não se pode pegar um jornal sem que se leia algo sobre o problema da chamada “nova moralidade”. Daí o problema central diante do mundo moderno: Que é moralidade? Como devemos viver? Algumas das regras fundamentais de vida estão sendo questionadas neste tempo presente. O casamento é sagrado; algo para sempre, ou não? Existe lealdade ou não? E não se podem levantar tais questões sem se trazer à tona a questão fundamental sobre o que é o homem e o que é a mulher. Eles são, afinal de contas, animais? Deve-se esperar que se comportem como os animais numa fazenda ou na selva? A promiscuidade na natureza é real. Então, seria ela correta entre os seres humanos? Bem, se eles são apenas animais, por que não?

A resposta para tudo isso é encontrada na resposta bíblica para a pergunta: Que é o homem, e que é a mulher? E quando você entender o que eles são, você fará a segunda pergunta: Eles foram criados para fazer o quê? Como devem viver? A resposta é muito simples. Deus, ao fazê-los à sua própria imagem, obviamente esperava certas coisas deles. Ele os fez senhores da Criação. Deste modo, Ele esperava que vivessem de forma diferente do resto da criação. Os animais vivem pelos instintos e obedecem a eles, o que está certo. Eles são animais; você não pensaria em corrigir ou açoitar um animal só porque ele se comporta de uma maneira discriminada e promíscua. Não há nada de errado com isso. Mas será que você espera que um homem ou uma mulher vivam assim? Não! Ele procurou juízo; ele procurou por justiça; por julgamento.

Esta é a visão bíblica do homem e da mulher, que, por haverem sido feitos à própria imagem e semelhança de Deus, são responsáveis diante dEle; são feitos para viver de acordo com certo padrão; para honrarem a lei de Deus; para serem seus companheiros. Era isso que Deus esperava de nós. Ele esperava que fôssemos justos, disciplinados, controlados e puros; que refletíssemos algo da sua glória; que fôssemos mestres de nossas faculdades, em lugar de sermos governados por elas. É isso que Deus procura: ‘juízo” e “justiça”. Esses são os modos que o profeta Isaías nos mostra neste quadro, relembrando-nos a verdade essencial que concerne aos seres humanos, nossa origem, nossa natureza, para o que fomos criados, e como devemos viver.

O segundo princípio geral que Isaías apresenta é este: A total irracionalidade da conduta e do comportamento humanos. Aqui está a questão: “Agora, pois, ó habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha.” Em outras palavras: ele está fazendo um apelo à razão, ao entendimento e ao senso comum, “Olhe aqui” diz o dono da vinha – foi assim que plantei a minha vinha escolhida na mais fértil colina. Eu dei a ela todas as oportunidades. E digo mais: Julguem com toda a justiça entre mim e a minha vinha. Venham comigo; constituam-se em júri; dêem seu veredicto sobre a conduta desta vinha.”

E isso é precisamente outra grande argumentação da Bíblia: a absoluta irracionalidade dos homens e das mulheres em sua vida e seu pecado. Considere o modo como têm vivido e se comportado, e como estão agindo neste tempo presente. Qual é a causa essencial de todos os seus males? Aqui está definida numa só palavra: Desobediência! Rebelião! E eu quero mostrar- lhe a completa irracionalidade disso. Aqui estão o homem e a mulher criados à imagem de Deus e colocados em um ambiente perfeito, tendo uma vida ideal de comunhão com Ele; feitos para desfrutar uma vida de retidão e santidade. Que, porém, eles fizeram? Deliberadamente zombaram da lei de Deus rebelaram-se contra Ele; deram-lhe as costas e seguiram em direção oposta.

Bem, isso é irracional pela seguinte razão: Que há de errado com o modo de Deus? Que está errado com o que Deus espera dos homens e das mulheres? Por que será que as pessoas estão vivendo sem Deus? Por que pensam que são mais sabidas quando zombam das leis de Deus, cospem nas coisas sagradas e ignoram o ensino do Senhor Jesus Cristo? Por que agem dessa maneira?

Deixe-me explicar da seguinte forma: Como justificar uma vida agnóstica? Ou, de um modo mais positivo: Que está errado com a demanda de Deus? “Ele procurou por juízo (…) Ele procurou retidão”. Que há de errado com isso? Diga-me, em nome da razão, qual a sua objeção aos Dez Mandamentos? Pegue os quatro primeiros: “Adora Deus e só a ele; não te curves a imagens esculpidas.” Existe alguma coisa errada nisso? Por que iriam as pessoas querer curvar- se diante de imagens? “Não tomes o nome do Senhor teu Deus em vão.” Qual sua objeção a isso? “Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo.” Que há de errado em guardar o sábado? Até mesmo os médicos dizem que é bom separar um dia a cada sete para descansar. Por que não cultivar a mente e o espírito e pensar na eternidade? Qual a objeção?

Vamos, porém, aos outros seis, aos Mandamentos práticos: “Não mates.” Qual é sua objeção a este? É razoável querer matar? “Não roubes.” Oh, isto é irracional, não é? O razoável é roubar, pegar as coisas e propriedades dos outros? “Honra a teu pai e à tua mãe.” Você veio ao mundo por intermédio deles, e eles cuidaram de você; abriram mão de noites de descanso por você; não há nada que não façam em seu benefício. Será por acaso irracional pedir-lhe que os honre?

Veja o que este homem diz: “E agora, ó habitantes de Jerusalém, e homens de Judá, julguem, eu lhes peço, entre mim e a minha vinha.” Onde está a irracionalidade da demanda de Deus nos Dez Mandamentos? “Não cometas adultério.” Será porventura irracional pedir às pessoas que mantenham seus votos matrimoniais? É errado pedir-lhes que exercitem um pouco de controle? Será errado pedir a um homem que não cobice a mulher do outro, não aborreça sua família nem traga destruição e ruína sobre ela? Enfrente isso! O mesmo se diz com relação a cada um dos pedidos que Deus fez. “Ele procurou por juízo, por retidão.” Os Dez Mandamentos, a lei moral, o Sermão do Monte… Que há de errado neles?

Você não vê que, se todas as pessoas do mundo estivessem seguindo os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte, não haveria o perigo constante de guerra, ninguém estaria construindo armamentos, nem existiria a tremenda tensão internacional que se observa? Tampouco enfrentaríamos todos os problemas morais que enfrentamos hoje; não necessitaríamos de tantas comissões especiais, nem haveria tanta destruição na vida matrimonial e familiar, com suas misérias e angústias conseqüentes.

Oh, a humanidade está louca! O que vivemos é insanidade, o cúmulo da irracionalidade! A rebelião dos homens e as mulheres contra Deus, e sua afronta à sua santa lei é o clímax da irracionalidade. Eles não são animais racionais, e, sim, tolos! Estão-se deixando governar por seus instintos e desejos, não pela mente e pelo cérebro. Aqui está, em Isaías 5, tudo na forma de um quadro antigo pintado 800 anos antes do nascimento de Cristo.

O terceiro ponto de Isaías é a perversão, tão característica do comportamento humano. Ele diz duas vezes: “Ele esperou que ela desse uvas, e ela produziu uvas selvagens (…) Por que razão, quando eu esperei que ela desse uvas, ela produziu uvas selvagens?” E… “Ele procurou por juízo, mas eis opressão; por justiça, mas eis um lamento.” Isso é perversão.

Os homens e as mulheres estavam produzindo exatamente o oposto do que deveriam produzir. Eles deveriam ser como uma vinha frutífera, produzindo as mais saborosas uvas em sua doçura e suculência, mas estão, na verdade, produzindo “uvas selvagens”; e uvas selvagens não são nada boas, não têm valor algum, não dão sustento, são repugnantes e amargas; são inúteis, uma pretensão e uma fraude. Elas apenas se parecem com a coisa real. Então, você as coloca na boca para descobrir que não são, e cospe, enojado.

E não é este um perfeito resumo de tudo o que a vida humana é? Você quer que eu creia que as pessoas foram feitas para produzir os resultados que estão sendo produzidos hoje? Olhe para o mundo e catalogue o que ele está dando: embriaguez, roubo, adultério, luxúria, fornicação, violência, ciúme, rancor, malícia, ódio. É inútil e amargo; é para ser cuspido. Se as pessoas estivessem em seus sentidos perfeitos, iriam reprová-lo e renunciar a ele. Ó mundo não está produzindo nada que seja de valor decisivo; apenas fraude, aparência de vida que não é vida, não passa de uma existência má e inútil.

Está tudo neste quadro. “Ele esperou que ela produzisse uvas e ela produziu uvas selvagens”, com toda a sua acidez e amargura. Isso é perversão. Os homens e as mulheres estão distorcidos. Eles nunca deveriam haver-se transformado dessa maneira. Eles teriam de ser justos, limpos e santos, produzindo frutos de justiça para a glória de Deus. Em vez disso, porém, temos vergonha, trevas e imundície em todos os níveis da sociedade.

Há algo, porém, ainda pior do que isso: a absoluta falta de justificativa da humanidade. Ouça esta observação de um queixoso: “O que mais poderia ter sido feito por minha vinha, que eu não tenha feito por ela?” Temos aqui o homem que comprou aquele maravilhoso terreno na colina fértil, retirou as pedras, cercou-o, protegeu-o e plantou nele a vinha escolhida. Pois ele não conseguiu nada além de uvas selvagens. Então, ele apela para a razão de todos os passantes. “Digam-me, se com razão vocês podem convencer-me de haver falhado em alguma coisa? Afinal, não fiz tudo que deveria ter sido feito por sua segurança e bem-estar? Existe algo mais que poderia ter feito?” E a resposta é: absolutamente nada.

Isso me leva a afirmar que os homens e as mulheres em pecado e em sua presente vergonha são totalmente inescusáveis. O que mais Deus poderia ter feito por eles que não tenha feito? A Bíblia é o relato do que Deus fez por nós. Ele fala a cada um mediante este grande livro, perguntando-nos: Que mais eu poderia ter feito que não fiz? Ele fez os seres humanos perfeitos; deu-lhes um ambiente perfeito; desceu e comungou com eles; abençoou-os; deu-lhes tudo de que necessitavam. Que mais poderia ter-lhes dado?

Foi assim não apenas no começo; Ele continua o mesmo. Ainda quando o homem e a mulher em sua loucura se rebelaram contra Ele, dando ouvidos ao Diabo, e pecaram, e caíram, trazendo o caos sobre si mesmos, nem assim Ele os esqueceu. Ele não disse: Muito bem: vocês fizeram isto, e isso, e aquilo; portanto é o fim. Oh, não! Mesmo quando eles se rebelaram, e como que cuspiram na Sua face, Deus desceu e eles Lhe ouviram a voz no Jardim, ao cair da noite. Ele os visitou, e, quando falou simplesmente, os repreendeu, fazendo ao homem e à mulher a mais gloriosa promessa: “Embora vocês tenham feito isso, e apesar de terem trazido tudo isso sobre vocês mesmos, eu ainda assim lhes prometo que a semente da mulher ferirá a cabeça da serpente.” (Veja Gênesis, 3:15.) Ele prometeu uma forma de libertação e de salvação.

Leia a grande história do Velho Testamento, e em seguida vá ao Novo, e é isso o que você encontrará. No Velho, você tem a bondade de Deus para conosco em sua providência. “Ele faz com que o sol se levante sobre bons e maus, e envia a chuva sobre o justo e o injusto” (Mateus, 5:45). Deus nos tem dado vida, saúde, força, alimento e vestimenta. Se Ele retirasse sua providência, tudo entrada em colapso; todos morreríamos de fome e frio. Deus nos mantém apesar de estarmos em rebeldia contra Ele. Sua bondosa providência não falha!

Ele se desviou de sua trajetória para nos instruir mediante sua santa lei. Ele se preocupa conosco, embora tenhamos caído e sido desobedientes. O mais impressionante de tudo, porém, é a paciência e a benevolência de Deus. Ele levantou a nação de Israel; por meio dela falou ao mundo todo. E veja a sua paciência com eles! Eles foram de encontro a Deus e se meteram em problemas, mas quando retornaram a Ele, Ele os recebeu. Muitos de nós os teríamos amaldiçoado por muito menos! Deus, porém, contra quem eles se haviam rebelado, disse: Eu lhes perdôo! E derramou seu amor sobre eles. Depois eles voltaram a fazer as mesmas coisas, mas humilhados e arrependidos, e Deus, novamente, os aceitou. Ele faz isso constantemente. Veja sua longanimidade, paciência, misericórdia e compaixão.

Veja o caso da nação como um todo, e também o caso dos grandes líderes da nação que erraram e voltaram atrás. Que mais Deus poderia ter feito por Israel?

E agora pense nos avisos que nos tem dado. Os homens e as mulheres – em sua sapiência – são tentados a dizer: Mas eu não sabia… Como poderia saber? Se ao menos eu houvesse recebido alguma instrução… algum aviso… Não, isso é mentira. A Bíblia está cheia de avisos. Deus disse ao homem e à mulher, antes que caíssem, que, se eles fizessem o que lhes proibira fazer, eles iriam sofrer, e muito! Eles foram avisados. E Deus tem avisado desde então a toda raça humana. Ele tem avisado não apenas com palavras, mas permitindo que certas coisas lhes aconteçam. Que mais poderia Ele fazer?

“O que mais poderia ser feito?” eis a pergunta de Deus neste quadro. “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho único” (João, 3:16). Sua preocupação com o mundo e seus habitantes é tão grande que, “Quando a plenitude do tempo veio, Deus mandou seu Filho, nascido de mulher, debaixo da lei (…)” (Gálatas, 4:4) Ele mandou servos, profetas e professores. Então, disse: Vou, basicamente, fazer a maior coisa que posso. Não posso fazer nada além disso. Vou enviar-lhes meu próprio Filho. E assim o fez. O Filho de Deus nasceu como o infante de Belém. Ele se tornou homem e viveu neste mundo, agüentou a contradição dos pecadores contra Ele, compartilhou a vida com homens e mulheres comuns e, finalmente, tomou a carga de seus pecados sobre Si. Ele foi ferido pelas transgressões deles e deu a vida por sua libertação.

Deus esvaziou seu próprio coração, enviando seu único e querido Filho, e “ele, que não conheceu o pecado, tornou-se pecado por nós” (II Co 5:21). Ele deu seu Filho a ponto de morrer, enfrentar uma morte cruel e vergonhosa na cruz. Ao apontar para aquela cruz, Ele está dizendo ao mundo todo: “Creia em meu Filho, e vou perdoar-lhe todos os seus pecados. Vou apagá-los. Vou reconciliá-lo comigo e dar-lhe uma nova natureza, um novo começo, um novo nascimento, e colocar meu Espírito Santo dentro de você. Então, vou aperfeiçoá-lo e, eventualmente, recebê-lo na minha presença na glória eterna. E farei tudo isso sem pedir nada em troca, esperando apenas que creia em meu Filho. Que mais Deus poderia ter feito? Esta é a sua pergunta. “Que mais poderia ter sido feito por minha vinha, que eu não tenha feito?” Ele fez tudo.

Assim, os homens e as mulheres são totalmente inescusáveis. Não adianta falar de suas fraquezas, da profundidade do seu pecado ou do poder do mal no mundo: eu sei tudo sobre isso. A salvação de Deus, porém, é mais poderosa, e você é o que é, simplesmente porque não crê nela. Você não tem desculpa.

E assim só resta uma coisa: o julgamento de Deus sobre os rebeldes, pessoas tolas, que não apenas quebraram sua lei mas rejeitaram sua graça e sua maravilhosa oferta de Salvação gratuita. Ouça estas palavras terríveis:

Agora, pois, vos farei saber o que farei com a minha vinha: tirarei a sua sebe para que sirva de pasto; derrubarei o seu muro, para que seja pisada; deixá-la-ei abandonada. Não será podada nem sachada, mas crescerão nela sarças e espinhos; darei ordens às nuvens para que não derramem chuva sobre ela.

Permita-me apresentar uma curta interpretação deste texto. Porque o mundo rejeitou a lei de Deus, seu Filho e sua oferta gratuita de salvação, Deus retém suas bênçãos. Ele impede as nuvens de chover sobre a Terra. Você espera ser abençoado por Deus quando recusa suas leis e rejeita sua oferta de amor em Cristo? Se é assim, então você está louco. O mundo hoje está na situação em que está porque Deus está retendo suas bênçãos. Ele não tem direito a elas.

Mas Deus não parou por aí. Ele retira sua proteção e suas limitações. “Eu removerei a cerca, e ela será devorada; e derrubarei o muro, e ela será pisoteada.” Neste mundo, estamos cercados por forças e espíritos malignos, e só Deus é mais poderoso que eles, capaz de fazê-los recuar e nos proteger. Rejeite Deus e eles atacarão. Pois é o que está acontecendo: eles estão atacando. Todos os inimigos da humanidade estão atacando com um poder enorme e terrível: as forças do mal e do pecado, da imundície, da sugestão e da obscenidade. As limitações da religião se foram, a limitação dada pelo Espírito Santo é retirada, as forças do maligno estão vindo como uma inundação, e a nossa desordem moral cresce de semana a semana. Deus retirou sua proteção porque os homens e as mulheres disseram que não precisavam dela.

Mas Deus ainda foi além disso: “Eu vou deixá-la desolada.” Ele fará dela um lugar abandonado. Eu interpreto isso como significando que Deus não permitirá que as pessoas sejam felizes neste mundo enquanto permanecerem num estado de rebelião. “Não há paz, diz o meu Deus, para o perverso” (Is 57:21). Assim, o nosso mundo moderno, com sua prosperidade, sofisticação e conhecimento, é um verdadeiro inferno. Por quê? Deus não permitirá que ele tenha sucesso; fará dele um lugar abandonado. Ele está fazendo isso diante dos nossos olhos.

A vida não deveria ser assim; ela foi feita para ser como a gloriosa vinha, mas o que vemos são espinhos e sarças e todo o horror que há neles: o sofrimento, a dor a angústia. Este é o quadro do mundo moderno. O escritor deste hino colocou tudo aqui:

O orgulho e a glória terrena sua confiança a espada e o templo traíram o que construiu com cuidado e carinho; torre e templo em poeira tornaram-se. – Joachim Neander

Assim eu os guiei através deste poema em Isaías, e nós temos visto que é isso o que Deus está dizendo ao mundo. E como fica o final? Aqui está a mensagem: Só há uma esperança para o homem e as mulheres individualmente, e só uma esperança coletivamente. É entender a irracionalidade e a falta de justificativa do pecado, e ir a Deus em penitência e contrição e confessar-lhe e dizer-lhe: “Eu reconheço que estou totalmente errado. Eu estava enganado sobre mim mesmo, como também sobre os outros. Entendo que fui criado por Ti, tenho valor para Ti, não posso viver sem Ti. Reconheço que sou um tolo, agindo como um louco. Senhor, tem misericórdia de mim !” Arrependa-se! Vá a Ele e confesse tudo!

Então, vá em frente e diga: “Eu ouvi a tua pergunta. Tu disseste: Que mais poderia ter sido feito além de enviar meu Filho único? E eu respondo: Ó Deus, tu não poderias haver feito mais nada; fizeste tudo em Cristo. Eu me entrego.” E Ele estará esperando, desejoso e pronto para recebê-lo.

D. Martin Lloyd-Jones

Fonte: Livro Uma nação sob a ira de Deus, Capitulo 1: A Vinha

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Dr. David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) ministrou poderosamente a Palavra de Deus por trinta anos como pastor da Capela de Westminster. Seu ministério ali foi uma grande bênção, não somente para os ingleses, mas também para pessoas vindas de toda parte do mundo. Em particular, alcançou estudantes de muitas nacionalidades que estudavam nas várias faculdades de Londres. Grande número desses voltaram posteriormente para seus países de origem para serem, por sua vez, instrumentos de bênção na causa do evangelho.

 

A VINHA – D. Martin Lloyd-Jones

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