Tratado escrito: Calvário – Jonh Charles Ryle [ 2 ] Final

Tratado escrito na metade do século XIX Pelo 1o Bispo da Diocese Anglicana de Liverpool Por Jonh Charles Ryle, Quando era reitor em Helmingham, Suffolk.

Cristo Crucificado
9o Tratado escrito na metade do século XIX Pelo 1o Bispo da Diocese Anglicana de Liverpool Por Jonh Charles Ryle
Quando era reitor em Helmingham, Suffolk.

Não há doutrina no cristianismo tão importante quanto a doutrina do Cristo crucificado. Não há nenhuma que o diabo tente tão avidamente destruir. Não há nenhuma tão necessária à nossa própria paz para entendermos.

Por “Cristo Crucificado”, refiro-me à doutrina de que Cristo sofreu a morte na cruz para reparar-nos de nossos pecados; que por Sua morte, Ele cumpriu a mais plena, perfeita e completa satisfação de Deus para com os descrentes; e, através dos méritos dessa morte, todos os que acreditaram nEle foram perdoados de todos os seus pecados, mesmo sendo estes muitos e grandes, foram inteiramente perdoados e para sempre.

Sobre essa doutrina sagrada, deixe-me discorrer algumas palavras.

A doutrina do Cristo crucificado é a grande peculiaridade da religião cristã. Outras religiões tem leis e preceitos morais, formas e cerimônias, recompensas e punições; mas essas outras religiões não podem nos relatar sobre um Salvador que morreu, elas não podem nos mostrar a cruz. Essa é a coroa e a glória do Evangelho, esse é o conforto especial pertencente apenas a ele. Verdadeiramente miserável é o ensinamento religioso que se auto-intitula cristão, mas que, mesmo assim, não contem nada sobre a cruz. Um homem que ensina dessa forma deve, de igual modo, afirmar explicar o sistema solar e, ainda assim, não falar nada aos seus ouvintes sobre o sol.

A doutrina do Cristo crucificado é a fortaleza de um ministro. Eu, pelo menos, não ficaria sem ela por nada nesse mundo. Eu me sentiria como um soldado sem armas, um artista sem pincel, um piloto sem bússola, um trabalhador sem suas ferramentas. Deixe que os outros, se quiserem, preguem lei e moralidade; deixe que outros falem sobre os horrores do inferno e os prazeres do paraíso; deixe outros habitarem nos sacramentos e na Igreja: dê-me a cruz de Cristo. Até agora, essa foi a única alavanca que virou o mundo de cabeça para baixo e fez os homens renunciarem a seus pecados e, se isso não o fizesse, nada o faria.

Um homem pode pregar com um conhecimento perfeito do latim, grego e hebraico, mas ele fará pouco ou insuficiente entre seus ouvintes, a não ser que saiba algo sobre a cruz. Nunca houve um ministro que tenha feito tanto para a conversão de almas, mas que não tenha discorrido longamente sobre a crucificação de Cristo. Lutero, Samuel Ruherford, Whitfield, M‟Cheyne foram todos célebres pregadores da cruz. Essa é a pregação que o Espírito Santo se deleita em abençoar, Ele ama honrar aqueles que honram a cruz.

A doutrina do Cristo crucificado é o segredo de todo sucesso missionário. Nada além disso moveu tanto o coração dos pagãos. Assim que isso foi percebido, as missões prosperaram. Essa é a arma que ganhou vitória sobre os corações de todos os tipos, no quatro cantos da terra: Groelândia, África, Ilhas Australianas, hindus e chineses, todos sentiram o poder da cruz de forma semelhante. Assim como a ponte que cruza o Estreito de Menais é mais entortada por meia hora de sol do que por todo o peso morto que pode ser posto por sobre ela, assim também os corações dos selvagens comoveram-se diante da cruz, mesmo quando argumento algum parecia surtir efeito sobre eles. “Irmãos,” disse um índio norte americano depois de sua conversão, “Eu já fui um pagão. Eu sei como os pagãos pensam.

Uma vez, um pregador veio e começou a explicar-nos que existia um Deus, mas logo dissemo-lo para voltar ao lugar de onde tinha vindo. Outro pregador maxresdefaultveio e disse para que não mentíssemos, não roubássemos e nem bebêssemos, mas nós não demos atenção a ele. Por fim, outro veio à minha cabana um dia e disse, „Eu vim a você em nome do Senhor dos céus e da terra. Ele me enviou para que você soubesse que Ele o fará feliz e o libertará de sua miséria. Para este fim, Ele se tornou homem, deu à Sua vida um preço e verteu Seu sangue pelos pecadores‟. Não pude esquecer essas palavras. Eu as disse para os outros índios e um despertar começou entre nós. Eu afirmo, portanto: preguem o sofrimento e a morte de Cristo, nosso Salvador, se desejam que suas palavras ganhem abertura entre os pecadores.” Nunca o diabo triunfou tão fortemente quanto quando ele persuadiu os missionários jesuítas na China a reter a história da cruz!

A doutrina do Cristo crucificado é a base para a prosperidade da Igreja. Nenhuma igreja jamais será honrada se o Cristo crucificado não for continuamente professado. Nada pode compensar a falta da cruz. Sem ela, todas as coisas podem ser feitas decentemente e em ordem; sem ela, pode até haver cerimônias esplêndidas, música bonita, igrejas suntuosas, ministros instruídos, mesas de comunhão lotadas, grandes coletas para os pobres, mas sem a cruz, nenhum bem será feito. Corações escuros não serão iluminados, corações orgulhosos não serão humilhados, corações em pranto não serão reconfortados, corações desfalecidos não serão alegrados.

Sermões sobre a igreja católica e ministro apostólico, sermões sobre batismo e a ceia do Senhor, sermões sobre unidade e divisão, sermões sobre jejuns e comunhão, sermões sobre padres e santos… Tais sermões nunca compensarão a abstinência de sermões sobre a cruz de Cristo. Eles podem divertir alguns, mas não os alimentarão.

Uma sala de banquete robusta e esplêndidos pratos de ouro à mesa nunca acabará com ânsia de um homem faminto por comida. O Cristo crucificado é a grande ordenança de Deus para fazer o bem aos homens. Sempre que a igreja retém o Cristo crucificado ou coloca qualquer outra coisa no principal lugar em que o Cristo crucificado deveria estar, a partir desse momento, tal igreja deixa de ser útil. Sem o Cristo crucificado no seu púlpito, a igreja é um pouco melhor do que uma obstrução no chão, uma carcaça morta, um poço sem água, uma figueira que não dá frutos, um vigia dormindo, uma trombeta silenciosa, uma testemunha emudecida, um embaixador sem termos de paz, um mensageiro sem informações, um farol sem fogo, um obstáculo para fiéis fracos, um conforto para pagãos, uma cama quente para o formalismo, uma alegria para o diabo e uma ofensa a Deus.

A doutrina do Cristo crucificado é o grande centro de união entre os verdadeiros cristãos. Nossas diferenças aparentes são muitas, sem dúvida: Um homem é anglicano, outro é presbiteriano, um é independente, outro é batista, um é calvinista, outro é arminiano, um é luterano, outro é irmão de Plymouth, um é amigo do Establishments, outro é amigo do sistema voluntário, um é amigo da liturgia, outro é amigo da oração improvisada, mas no fim de tudo, o que mais ouviremos sobre essas diferenças no céu? Nada, muito provavelmente nada. Um homem verdadeiramente se gloria na cruz de Cristo?

Essa é a grande questão. Se sim, ele é meu irmão, andamos na mesma estrada, estamos caminhando em direção à casa onde Cristo é tudo, e tudo externo à religião será esquecido. Entretanto, se ele não se gloria na cruz de Cristo, não posso me sentir confortável com ele. União apenas nos pontos externos é uma união por pouco tempo, mas união pela cruz é união para a eternidade. Erro em questões externas é apenas uma doença superficial, erro sobre a cruz é uma doença no coração. União em pontos externos é uma mera união humana, união sobre a cruz de Cristo pode ser produzida apenas pelo Espírito Santo.

Leitor, não sei o que você pensa sobre tudo isso. Sinto como se metade do que desejo dizer-lhe sobre o Cristo crucificado não foi dito. Mas espero tê- lo dado algo sobre o qual pensar. Escute-me agora por alguns momentos, enquanto digo algo para aplicar todo o assunto na sua consciência.

Você está vivendo em algum tipo de pecado? Você está seguindo o curso do mundo e negligenciando sua alma? Escute, eu o imploro, o que lhe digo hoje: “Olhe para a cruz de Cristo.” Veja nela o quanto Jesus o amou! Veja o quanto Jesus sofreu para preparar-lhe o meio da salvação! Sim, homens e mulheres descuidados, foi por vocês que o sangue foi derramado, que essas mãos e pés foram perfurados com pregos e que esse corpo ficou pendurado agonizando na cruz!

Vocês são aqueles a quem Jesus amou e pelos quais morreu! Certamente esse amor deve comovê-lo, certamente o pensamento da cruz deve levá-lo ao arrependimento. Oh, que seja assim hoje! Oh, que você viesse de uma vez a esse Salvador que morreu por você e está disposto a salvá-lo! Venha e chore para Ele com oração e fé, e eu tenho certeza de que Ele ouvirá. Venha e deite-se sobre a cruz, e eu sei que Ele não o lançará fora. Venha e creia nEle, que morreu na cruz, e a partir desse dia você terá a vida eterna.

Você esta indagando o caminho para o céu? Você está procurando salvação, mas duvida que a encontrará? Você está desejando ter mais interesse em Cristo, mas duvidando se Ele o receberá? Para você também eu digo isso: “Segura na cruz de Cristo”. Aqui tem encorajamento, se você quiser. Achegue-se ao Senhor Jesus com ousadia, pois nada deve mantê-lo atrás. Seus braços estão abertos para recebê-lo, Seu coração está cheio de amor por você. Ele foi feito de tal forma que você pode se aproximar com confiança. Pense na cruz. Achegue-se e não tenha medo.

Você é um homem sem estudos? Você anseia em ir para o céu, mas ainda está perplexo e foi levado a uma paralisação devido a dificuldades na Bíblia que você não consegue explicar? Para você, eu digo isso hoje: “Olhe para a cruz de Cristo”. Leia nela o amor do Pai e a compaixão do Filho. Certamente elas estão escritas em letras grandes e claras, impossível de serem mal interpretadas. Por que, então, você está agora espantado com a doutrina da eleição? Por que você não pode reconciliar sua própria corrupção com sua responsabilidade? Olhe, afirmo, para a cruz. Será que essa cruz não lhe diz que Jesus é um Salvador poderoso, amoroso e preparado? Não deixa claro que se você não for salvo, é por sua própria culpa? Oh, apodere-se dessa verdade e apodere-se rápido!

Você é um cristão angustiado? O seu coração está pressionado com doenças, provado com decepções, sobrecarregado com preocupações? Para você também eu digo isso hoje: “Olhe para a cruz de Cristo”. Analise qual mão é a que lhe castiga: observe qual mão mede por você o copo da amargura o qual agora bebe. É a mão dEle que foi crucificado, é a mesma mão que, em amor por sua alma, foi pregada na cruz. Claro que esse pensamento deveria confortá-lo e encorajá-lo. Claro que você deveria dizer a si mesmo: “O Salvador crucificado nunca derramará sobre mim algo que não me seja bom. Há um motivo para isso. E precisa ser bom.”

Você é um cristão lânguido? Você já foi para a cama com algo por dentro lhe dizendo que nunca sairia dela vivo? Você está se aproximando daquela hora solene em que alma e corpo partem por uma temporada e você deve lançar-se num mundo desconhecido? Oh, olhe fixamente para a cruz de Cristo e você ficará em paz! Mantenha os olhos da sua mente firmemente no Jesus crucificado e Ele o libertará de todos os seus medos. Embora você ande por caminhos escuros, Ele estará convosco. Ele nunca o deixará, nunca desistirá de você. Sente-se à sombra da cruz até o fim e seus frutos serão doces no seu paladar. Existe apenas uma coisa indispensável no leito da morte, e essa é sentir o braço ao redor da cruz.

Leitor, se você nunca ouviu sobre o Cristo crucificado antes desse dia, o que posso desejar-lhe de melhor é que você O conheça pela fé e descanse nEle através da salvação. Se você O conhece, então que você O conheça ainda melhor a cada ano que viva, até que O veja face a face.

Jonh Charles Ryle

hqdefaultJohn Charles Ryle, Nascimento: 10 de maio de 1816, Falecimento: 10 de junho de 1900, comumente referido com J.C.Ryle foi clérigo inglês, e o primeiro bispo da diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool. Ryle era filho de John Ryle, um rico comerciante e banqueiro em Macclesfield; John Charles Ryle foi o primeiro filho homem depois de duas irmãs, por isso era considerado naturalmente sucessor de seu pai. Por conta disso, foi educado em Eton e em Christ Church, em Oxford. J.C.Ryle nasceu em Macclesfield, uma pequena cidade britânica no condado de Cheshire, na Inglaterra. Macclesfield é conhecida por ser um lugar onde nasceram ou moraram pessoas ilustres do círculo da música.

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